quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Avatar




Assisti por duas vezes Avatar, esse sucesso de bilheteria. Fiquei sabendo que o filme teve um custo de aproximadamente 500 milhões de dólares e já faturou, em duas semanas, por volta de 1 bilhão e 600 milhões de dólares. O filme demorou cerca de 5 anos para ser produzido. Os atores não são muito conhecidos. A única que conheço é a Sigourney Weaver que fez, entre outros filmes, "Alien". James Cameron é um diretor competente. Achei a fotografia muito linda. Os cenários, figurinos e efeitos especiais são muito bons. Gostei mais de ter assistido em 3D. Parece que entramos no filme, interagimos com as imagens e atores. O filme é bem contemporâneo. Trata de clonagem, neurociência, ecologia etc. Creio que valhe à pena assistir ao filme. De minha parte, prestei atenção em algumas questões que o filme me remeteu. A mais importante para mim foi a interação do protagonista, que tem o seu avatar, com a sociedade alienígena. Me lembrei quase intantaneamente do filme "Dança com lobos". Ele é um ex-militar, paraplégico, que substitui o seu irmão morto em um assalto, porque possui a mesma estrutura genética, compatível com o avatar. Inicialmente ele é enviado para interagir com os alienígenas para conseguir informações sobre os seus costumes e verificar o que pode ser oferecido a eles para a desapropriação da região que possui um mineral muito valioso. Mas com o passar do tempo ele não só interage como passa a se sentir mais com alienígena do que como humano. É como se a realidade não fosse mais propriedade de seu corpo original, mas sim do corpo do avatar. Então ele passa a defender os interesses não mais da empresa terráquea, que explora e destrói o planeta, mas sim os interesses dos alienígenas. Até que no final ele se torna propriamente um alienígena. Como não identificar esse processo de aculturação com o filme "Dança com lobos"? É claro que uma obra de arte, qualquer que seja, literária, plástica, cinematográfica, dialoga com obras anteriores, não necessariamente no sentido de repetir o que já foi feito, mas de ter o que já foi feito como uma referência.
Fiquei pensando também em como, no ano de 2154, em que se passa o filme, com tanto avanço científico e tecnológico, a antropologia não tenha avançado o suficiente para entender que os alienígenas tinham valores bem diferentes dos valores culturais dos terráqueos. Que eles não precisavam de nada que nós pudessemos oferecer a eles, a ponto dos militares presentes na estação de exploração mineral optarem pela guerra, porque qualquer tipo de negociação diplomática seria fracassada. Como os executivos das empresas capitalistas presentes no planeta não possuiam conhecimento e inteligência suficiente, por terem historicamente vivenciado isso na Terra, para compreenderem a real situação da população alienígena e, desta forma, terem utilizado meios mais apropriados e efetivos para a extração do mineral?
Bom, como é um filme comercial, antes de mais nada, me incomodou muito o maniqueísmo apresentado nas personagens e situações dramáticas. O bem e o mal devem sempre ficar aparentes para o grande público, que se complica em seus pensamentos quando as coisas não se passam assim. O mesmo acontece com a questão do melodrama. Deve sempre existir um par romântico, porque do contrário, não há final feliz. Mas isso se faz necessário, porque se não o grande público não assistiria o filme. Deu meu desconto para isso.
A questão ecológica de que o filme trata remete a idéia de Gaia (Terra) como organismo vivo, interagindo com todos os seres que habitam o planeta. Em tempos de Copenhagem, aquecimento global etc, nada mais apropriado. Como professor, sei que temos que dar a mesma mensagem todo o ano, pois os mais jovens ainda não sabem. Mas como espectador isso se torna muito cansativo. Desde os anos 70 que tenham algum tipo de militância em relação à defesa do meio ambiente e, desta forma, o tema me é muito familiar. Mas há que se repetir, e repetir, e repetir, e ainda por cima, sensibilizar os novos, para que eles formem uma massa crítica que seja capaz de intervir, por meio da opinião pública, nas decisões dos principais governos e empresas do mundo.
Com relação aos animais, todos eles são inspirados em animais existentes aqui na Terra. Lembram rinocerontes, leopardos e até o extinto dinossauro carnívoro, que já apareceu em outro filme, "Parque dos dinossauros". A presença da "árvore das almas" é uma referência à dualidade entre o natural e o sobrenatural, algo já muito discutido na filosofia, o da existência de uma racionalidade além da natureza mas em comunicação com ela. No filme ela recebe o nome de "Eiwa".
Enfim, teria muito mais a escrever sobre o filme, mas fico por aqui, recomendando a todos que o assistam, porque é um belo filme e que possui uma mensagem que considero importante.