sábado, 23 de abril de 2011

"Whatever Works" ou tudo pode dar certo...




















Woody Allen é sempre Woody Allen... É sempre o máximo... Pelo menos eu gosto de todos os filmes dele. Tem um sabor novaiorquino e cosmopolita, sem pedantismo, pelo contrário, bastante explicativo em suas narrações. Talvez não seja um ótimo ator, apesar de que adoro rever o filme em que ele conversa com a mãe, uma velha judia, que está no céu, pedindo para ele não esquecer de levar o casaco, pois vai fazer frio. Ou então ele e a Diane Keaton em seus dramas amorosos de classe média, por exemplo. Neste feriado assisti ao filme "Whatever Works". O título em português é "Tudo pode dar certo". Ele escreveu e dirigiu o filme. Não atua. Adorei! Acho que ele está cada vez mais maduro intelectualmente e, talvez, tenha lido Sponville e sua "Felicidade desesperadamente", pelo menos foi o que senti ao ver o filme.
Não quero contar toda a história para não perder a graça para quem quiser assistir, mas não consigo esconder a vontade de escrever um pouco sobre o filme. Encarem como quiserem. Um resumo ou uma resenha, tanto faz, não me importo. Apenas quero escrever um pouco sobre o filme.
Um homem idoso, mas não tão idoso assim, que foi professor de Física e quase ganhou o Nobel na área conversa com amigos em um bar. Ele é manco, porque tentou suicídio durante o casamento. Há um flashback disso. Voltando para casa encontra uma garota bem jovem, talvez dezoito anos, linda, loira, do Sul dos Estados Unidos, educada em uma "tradicional" família sulista, racista e que vota no Partido Conservador e em George W. Bush ou, se quiserem, John McCain... Ela pede para ele dar abrigo a ela. Ele é um cara ranzinza, rabugento mesmo. Ela acaba morando com ele e se declara apaixonada pela genialidade dele. Aí é que eu acho que está a crítica. Que genialidade é essa? O cara viveu com a moça durante meses e nem percebeu que ela estava a fim dele, mesmo que por motivos de admiração, o que é uma babaquice por sua vez. Um casal muito improvável em qualquer situação real. Mas vivem juntos. De repente, o que acontece? A mãe dela chega. Foi abandonada pelo marido, pai da jovem, que foi viver com a sua melhor amiga. Ela é uma jeca, tradicionalista, reacionária etc, que não acredita no que vê. A filha, que foi educada para ser uma "boa esposa e mãe" casada com um idoso ranzinza... é cômico! Aí tem um desenrolar da história. Um momento hilário é quando o pai da moça chega e, com toda a hipocrisia do mundo, diz que foi tentado pelo diabo e perdeu a cabeça, mas que agora quer voltar para a esposa etc. Quando ele vê Boris, que é o nome do físico idoso, se ajoelha e começa a rezar... Bem, a partir daí o filme dá uma reviravolta impressionante. A mãe vira artista plástica de vanguarda e passa a viver com dois homens no mesmo apartamento. O pai assume a sua homossexualidade e passa a viver com outro homem, que o conheceu em um bar amargando a tristeza de estar abandonado. Ah! Um detalhe importante. O pai só voltou a procurar a mãe porque não conseguia mais ter ereção com a amante. Na verdade o que ele nunca teve foi desejo por mulher. Olha só a hipocrisia... A jovem conhece um ator (outra ironia), que é jovem também e bem apessoado, e passam a viver juntos, abandonando Boris. Durante uma lavagem das mãos, outra cena incrível do filme, porque ele canta "Happy Birthday" duas vezes para dar tempo para lavar bem as mãos, ele se joga da janela e tenta novamente o suicídio. Cai em cima de uma mulher que passava na calçada. Vai visitá-la no hospital e se apaixona. Mas veja, ela é vidente e sensitiva. O que um físico vai fazer vivendo com uma mística? Outra ironia. Mas a melhor ironia do filme, para mim, é a ironia sobre as imprevisibilidades da vida, sua falta de sentido e a necessária vontade que devemos ter de colher o dia, a cada dia, e levar ou buscar o amor em todas as nossas ações. O final do filme se passa no reveillon e Boris faz suas belas declarações finais. Enfim, tudo pode dar certo!