tag:blogger.com,1999:blog-70695508321584156222024-03-21T02:58:09.135-07:00Felicidade desesperadamenteUm espaço para pensamentos e reflexões existenciais, mas que pode ser cedido para as temáticas mais diversas na medida da vontade de seu autor. Aqueles que o acessarem sejam misericordiosos e relevem os solilóquios compartilhados virtualmente, pois apesar de constrangedores, são uma forma de acesso subjetivo ao mundo...Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.comBlogger52125tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-46502454454979927482011-09-13T07:19:00.001-07:002011-09-13T08:03:03.865-07:00Ópera dos Vivos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPdLuNQw4V5BdzIjbigWoDNDmrkQ5o7LrCE4ntFNlQM3dWdzxdMLevVmYTz55aLLifqMEb1Uajq9qzruL81YBMf8yDbeLKaZHXCkGgNTbbtVIAGZtyvFZDHWUUYWJOeIRqQqLAlJmlFEY8/s1600/%25C3%25B3pera+dos+vivos.jpeg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 206px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPdLuNQw4V5BdzIjbigWoDNDmrkQ5o7LrCE4ntFNlQM3dWdzxdMLevVmYTz55aLLifqMEb1Uajq9qzruL81YBMf8yDbeLKaZHXCkGgNTbbtVIAGZtyvFZDHWUUYWJOeIRqQqLAlJmlFEY8/s320/%25C3%25B3pera+dos+vivos.jpeg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5651859843321197522" /></a><br /><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Neste último sábado, a convite de minha filha Mariana, fui à São Paulo assistir a peça "Ópera dos Vivos" da Companhia do Latão. A peça foi apresentada no Centro Cultural São Paulo, na Vergueiro. São quatro horas de espetáculo que, apesar do cansaço, é tão forte quanto um imã. A peça foi escrita e dirigida pelo Sergio de Carvalho, que também é professor no curso de Artes Cênicas da USP. A Companhia do Latão atua, a partir da capital, desde aproximadamente meados dos anos 1990 e tem como principal proposta a criação de um teatro dialético político, inspirado no trabalho de Bertold Brecht, dramaturgo alemão de meados do século XX, que pertence a uma tradição que vê o teatro como instrumento de conscientização política.<div>Compartilho da ideia de que teatro não deve ser só entretenimento, do tipo comédia pastelão ou "stand up" de quinta categoria, apesar de reconhecer que existem peças cômicas super interessantes. Acho que o teatro foi vulgarizado na sociedade de consumo. A arte foi transformada em mercadoria ou a mercadoria foi transformada em arte, empobrecendo a capacidade do teatro fazer as pessoas pensarem reflexivamente.</div><div>Nesse sentido, é uma pena que a peça tenha sido apresentada principalmente, desde 2010, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A peça possui um potencial crítico e deveria ser levada a todos os cantos do país.</div><div>O texto percorre o trajeto histórico nacional a partir do final dos anos 1950, época das Ligas Camponesas no nordeste, onde a luta de classes entre camponeses despossuídos e latifundiários autoritários estava em evidência. O perfil das personagens é maravilhoso! A caracterização da desigualdade social a partir de uma sociedade que se preocupava em enterrar os mortos decentemente deixa claro aquilo que João Cabral escreveu no poema "Morte e Vida Severina", porque a única terra que cabe ao camponês é a de sua cova.</div><div>O próximo ato ocorre em um outro cenário, com um filme que me lembrou "Terra em Transe" do Glauber Rocha, na sua estética principalmente, a época do Cinema Novo. Traça o perfil de um banqueiro, protótipo de um burguês muito rico, que por causa de um envolvimento afetivo com uma atriz acaba por ver abalada sua posição de classe social, chegando mesmo a financiar atividades artísticas e culturais de jovens de esquerda no momento imediatamente anterior ao golpe de 1964. Porém, o desfecho é dramático, na medida em que o banqueiro retoma seu convívio familiar e acaba por aceitar sua posição classista e não apóia mais movimentos culturais de esquerda, mas sim o próprio golpe militar.</div><div>Logo depois aparece um cenário que lembra o final dos anos 1960, do tipo programa de auditório, com um show de músicos e cantores no estilo do tropicalismo, com uma nova estética e uma afirmação a cultura de massas e o envolvimento do artista com o mercado. A mercantilização da arte se torna, a partir desse momento, um paradigma para se medir e refletir os impactos do golpe militar de direita no país, que vai aos poucos alienando a classe artística e, consequentemente, o próprio público, não somente desviando o debate da questão central da luta de classes como também criando novas demandas que, a princípio seriam legítimas, mas que de fato servem como um véu de Maya que encobrirá daí em diante a reflexão política nacional. O mais patético é a presença de Miranda, uma cantora de música de protesto que não consegue se adaptar ao novo clima alucinógeno.</div><div>No final, em um outro cenário, tem-se um estúdio de televisão, que pode valer para os anos 1970 até hoje, onde a equipe toda está atrelada a lógica do consumo da industria cultural. Trata-se da gravação do final de uma novela, onde atores, figurantes, diretores repetem, sem qualquer tipo de pensamento crítico, seus papéis técnicos, não importando mais o conteúdo, o que se diz, porque é considerado pano de fundo, apenas cenário, de um dramalhão barato baseado na superficialidade de um romance entre uma jovem, irmã de uma guerrilheira assassinada durante a ditadura e o delegado que a matou. Os dois estão "apaixonados" e o final pressupõe que o delegado, com sentimento de culpa, se suicide. Mas o ator que faz o delegado alega que torturador não tem sentimento de culpa e quer mudar o roteiro. Para quê!!! O circo pega fogo. Os "funcionários" da televisão ficam indignados com o "comportamento anormal" do ator que interpreta o delegado e, enfim, a cena é feita do jeito que estava programada e fica o recado para a platéia: o golpe militar de 1964 e a ditadura que persistiu durante vinte e um anos afetou profundamente as relações sociais no país: trabalho, afeto, cultura entre outras. O país realmente mudou, e mudou para pior, para um cenário de total alienação, onde o debate sobre a questão essencial no modo de produção capitalista, que é a luta de classes, é dissipada por discussões alienantes, sobre temas sem significado político determinante, tornando o país, tanto do ponto de vista cultural como político, mais pobre e ridículo!</div><div>É por isso que os meios de comunicação de massa na atualidade são pautados por temas superficiais como sexo e consumismo, onde a televisão, principalmente, por meio de seus programas de auditório ou de seus documentários ditos "jornalísticos" pautam a agenda social com discussões a respeito de crimes passionais, miséria resolvida por ato de "bondade" de um apresentador de televisão, de propaganda da atividade brutamontes da polícia legitimada como um seriado realista, entre outras bobagens que ao impregnarem o imaginário de toda a sociedade, acaba por aliená-la definitivamente e é, por esse caminho, que o capital e sua função exploratória no sistema capitalista vai sendo reproduzido "ad infinitum"...</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-83041979877944355702011-08-09T14:06:00.000-07:002011-08-09T14:28:40.806-07:00Melancolia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZuky4glI6X3JyCLP-ZEL-xnFi_iuGyVWKo2GfGj3PW43gAX0pwzBokU0zL_FHcHD2n5o-dCoZZHznqmV8oChpejiTlr66peZaVdvH5kW-xampyzgAt4PTGgujw7rQYWTwLIduGLtPggAa/s1600/Melancolia+de+D%25C3%25BCrer.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 248px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZuky4glI6X3JyCLP-ZEL-xnFi_iuGyVWKo2GfGj3PW43gAX0pwzBokU0zL_FHcHD2n5o-dCoZZHznqmV8oChpejiTlr66peZaVdvH5kW-xampyzgAt4PTGgujw7rQYWTwLIduGLtPggAa/s320/Melancolia+de+D%25C3%25BCrer.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5638971240248906706" /></a>
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Para mim é a de que podemos, enquanto caímos, dar-nos as mãos e sentirmos o calor da amizade e do amor, o aconchego do olhar, melancólico, que seja, do companheiro ou da companheira ao lado nos dizendo: eu sei que vc está caindo no abismo, mas eu estou também caindo, e estou ao seu lado, como vc está ao meu lado. Acho que é isso o que resta, apenas. A amizade e o amor, a solidariedade e a compaixão, a possibilidade de não deixarmos o outro só e nem de nos sentirmos sós. Porque diante do poder da natureza, somos simplesmente fracos demais, insignificantes. Por mais que a medicina, essa ciência que nasceu na Grécia e que nos mantém vivos até hoje, progrida, ela jamais terá a condição de nos proporcionar a eternidade. Eu não quero a eternidade. Na verdade, sinto nos ombros o peso do mundo e o peso de minha existência. Já me sinto cansado. Não sou daqueles que dão risos fúteis a partir de alguma vulgaridade dita. Sou talvez mais carrancudo, mais circunspecto. O mundo e os caminhos percorridos pesam nos ombros. Somente quando se tem uma certa idade e um acúmulo grande de experiências podemos dizer isso. O mundo pesa nos ombros. Daí vem um cansaço quase insuperável, que dá vontade de desistir. Melancolia. Ela também provém do fato de que na natureza não há sentido nem regra. Talvez o ruim supere realmente o bom. Não quero dizer que o mal supera o bem, pois não estou a fim de pensar metafisicamente. Quero apenas dizer que o ruim talvez supere o bom. Não sou bom. Sou egoísta. Mas não vou me recusar a segurar as mãos de quem estiver caindo comigo no abismo porque não quero que essa pessoa se sinta só nesse instante e nem eu quero me sentir só. Um apóia o outro, talvez essa seja a regra de ouro. Desencanto, quase sempre. Mas quando vou a escola e meus alunos e alunas vem me abraçar e me beijar, dizendo que estavam com saudades de mim e de minhas aulas, então, quase que por encanto, não me sinto mais caindo no abismo real. Sinto-me flutuando em nuvens, com o sol quente aquecendo minha pele e o azul do céu criando um cenário maravilhoso e repleto de possibilidades. Sartre disse certa vez que o inferno são os outros. Quando penso naqueles que me ligam, não para perguntar como estou e muito menos para dizerem coisas enriquecedoras, mas para compartilharem mesquinhez e insensatez, realmente concordo com Sartre. Mas quando uma aluna maravilhosa que tenho no primeiro colegial me diz, baixinho, que quer cuidar de mim quando eu ficar velhinho, então uma lágrima sincera cai de meus olhos e agradeço a natureza por estar vivo... só isso...Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-56119716744663873352011-07-20T19:37:00.000-07:002011-07-20T20:00:05.652-07:00HomofobiaNeste último final de semana, em São João da Boa Vista, ocorreu um ato de homofobia que movimentou a mídia no estado de São Paulo, pelo menos. Todos os anos acontece, em julho, uma feira agropecuária horrorosa que o pessoal de lá chama de EAPIC. É uma bosta de feira caipira, que reúne milhares de fãs daquelas coisas idiotas que tentam rimar amor com flor, o tal breganejo. Tem gente de todas as classes sociais, porque educação e cultura não é privilégio de uma ou outra classe, de quem tem ou não dinheiro, mas resultado de um tratamento cuidadoso do espírito por meio do estudo e da reflexão. Então aparecem por lá patricinhas e mauricinhos e também parcelas significativas do proletariado, tanto faz. Porém, culturalmente falando, do ponto de vista antropológico, vícios de comportamento, como o machismo indiscriminado, estão presentes, tanto no comportamento dos homens que comparam a quantidade de trepadas que dão com mulheres diferentes, buscando com isso a criação de um ranking de sucesso pessoal, diante de fracassos existenciais, como também no comportamento de mulheres, e aí eu concordo com o Pondé, que se deixam ser tratadas como objeto porque não querem se sentir solitárias ou preteridas. O comportamento machista é também criadouro de um preconceito arraigado na sociedade brasileira, que é a homofobia, ou seja, a aversão aos homossexuais.<div>Desta vez a coisa ficou preta! Pai e filho, acompanhados de suas respectivas namoradas que estavam no banheiro no momento do fato, foram violentamente agredidos por um grupo de homofóbicos, que freudianamente são recalcados, ou seja, manifestam por meio da violência o que de fato gostariam de estar fazendo e, portanto, não querem assumir a sua própria sexualidade, porque estavam se abraçando na tal festa breganeja. Pouco importa que eram pai e filho. O que importa é que foram vistos como um casal gay por um grupo de trogloditas e foram espancados. O pai teve boa parte de sua orelha arrancada e terá que fazer um implante de cartilagem para reconstituir a sua orelha.</div><div>O que isso revela? Que a homofobia corre solta em nosso país. É por causa disso que há um projeto no Congresso Nacional que transforma a homofobia em crime. Porém, como a maior parte dos congressistas são também homofóbicos, ainda está tramitando no Congresso e, provavelmente não será aprovado. Do contrário, tal ato seria considerado crime grave, com pena superior a 4 anos e permitiria a autoridade judiciária autorizar a prisão preventiva ou temporária dos responsáveis.</div><div>O que a atual legislação permite é, no máximo, a abertura de um inquérito policial e de um processo crime por lesão corporal, que pode ser interpretada pelo juiz como leve e, desta forma, se os acusados forem condenados, terão como pena, talvez, a prestação de serviços para a comunidade por um curto período de tempo.</div><div>Tenho diversos amigos e amigas homossexuais que, de maneira constrangedora, não podem manifestar seus afetos publicamente, porque sabem que serão censurados de alguma forma, talvez até violentamente, como foram o pai e o filho na bosta da festa caipira.</div><div>O que fazer em tal situação? Enviar ao deputado federal e senador que vc votou um e-mail pedindo o compromisso de aprovarem o projeto de lei que torna crime a homofobia, assim como o racismo foi transformado em crime. Talvez, com o rigor da lei e o fim da impunidade, esses covardes recalcados tomem vergonha na cara e fiquem simplesmente quietos diante de duas ou mais pessoas do mesmo sexo que, indiferentemente de serem heterossexuais ou homossexuais, demonstrem o carinho que sentem entre si livremente em qualquer espaço público e privado.</div><div>Se esse país pretende ser realmente uma democracia é fundamental que os direitos individuais sejam definitivamente respeitados por todos, mesmo que mediante o constrangimento legal.</div><div>Que os babacas queiram gastar o seu dinheiro em eventos desse naipe, é problema deles. Mas usar da violência contra as pessoas que demonstram carinho em público é inadimissível!</div><div>PS.: Quero deixar um forte abraço para meu novo amigo Alain, poeta carioca que conheci nessa cidade incrível que é São João del Rey. Alain, continue com sua irrepreensível coragem de fazer o que mais gosta, que é escrever, desenhar e compor! Vamos nos falando... </div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-4317135593955091772011-07-18T14:06:00.000-07:002011-07-18T14:20:42.395-07:00Mais uma do PSDB de São Paulo contra os professoresO governador Alckmin determinou que as férias dos professores da rede pública estadual serão divididas. Serão 15 dias em janeiro e 15 em julho. O argumento é que os professores terão mais tempo para prepararem as aulas. Mentira! Argumento furado. Os professores não tem muito tempo para prepararem suas aulas porque recebem um salário muito baixo e precisam de uma dupla ou até tripla jornada de trabalho diário para compensar o salário baixo que recebem da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.<div>O governo quer é escravizar o professor, alegando que terá aproximadamente 50 dias de descanso por ano, dizendo que a maioria dos trabalhadores tem apenas 30 dias. Porém, como a própria legislação reconhece e qualquer pessoa de bom senso reconheceria, a atividade do magistério é muito mais desgastante do que a maioria das outras atividades profissionais, é por isso que o professor se aposenta com 30 anos de contribuição e a professora com 25 anos.</div><div>Enquanto o governo de São Paulo não melhorar as condições de trabalho do professor, este terá que dar aulas em outras escolas, geralmente particulares, para complementar o seu salário, ficando, como resultado, estafado, exausto, sem motivação e sem tempo para preparar aulas melhores.</div><div>O sindicato dos professores de São Paulo quer que a jornada máxima de aulas para o professor da rede pública seja de 25 aulas por semana, sem prejuízo nos vencimentos, recebendo por 40 horas aula semanais. Dessa forma, se tal medida fosse aprovada pela Assembléia Legislativa, o professor poderia ter mais tempo para preparar as suas aulas durante a semana e ficaria mais descansado para dar uma atenção melhor aos alunos. Mas esse objetivo parece distante da mente dos atuais gestores do governo paulista. Preferem manter as 33 horas aula em sala de aula por semana e diminuir o tempo de férias dos professores.</div><div>O resultado será muito fácil de compreender: professores mais cansados e menos motivados irão para a sala de aula e isso acarretará prejuízo para os alunos, simplesmente.</div><div>O jornal Folha de São Paulo, em seu editorial de hoje, afirmou que o decreto do governador é positivo e nem discutiu as condições de trabalho dos profissionais da educação. Mas todos já sabemos quem (ou qual partido) a Folha apóia, não é mesmo? Quem duvida que seja o PSDB?</div><div>Além disso, a Folha afirmou que os professores receberão um aumento de salário de 42 %, escalonado em 4 anos. Isso é um absurdo! Desde 1998 acumula-se uma perda salarial da ordem de 36 %. O que o governo anuncia como aumento é nada mais nada menos que reposição salarial, que o professorado irá ter que esperar quatro anos para que as perdas desde 1998 sejam compensadas. Aí eu pergunto: E as perdas que os professores tiverem a partir de 2011? Bom, nisso ninguém fala. Afinal, não é o salário que é baixo, é o mês que é comprido...!!!</div><div>Me admira que a maioria da população de São Paulo continue votando nos candidatos do PSDB, especialmente os pobres, que são os mais prejudicados por medidas como essas.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-45701390645536625242011-07-15T13:49:00.000-07:002011-07-15T14:02:24.832-07:00O ensino superior está encrencadoO Álvaro Dias, senador do PSDB pelo Paraná, apresentou um projeto de lei que suprime a exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 30% de mestres e doutores nas universidades. Trinta por cento já é pouco se compararmos com as universidades européias e norte-americanas, mas é alguma coisa ainda. Por outro lado, como 70% dos professores não precisam ter titulação de pós-graduação, tem espaço para a contratação de profissionais com notório saber para lecionar nas universidades, mas que não possuem diploma de mestrado e doutorado. Então cabe uma pergunta: A quem atende tal projeto?<div>As universidades, centros universitários e faculdades privadas, que dominam o cenário do ensino superior no Brasil, ofertando quase 80% das vagas, querem reduzir custos com contratação de professores, para poderem ter mais lucros. Nunca é de menos lembrar que uma empresa privada, em qualquer ramo, inclusive a educação, tem por objetivo primordial ter lucro, ganhar dinheiro. Esse projeto do Álvaro Dias, se aprovado, permitirá que as instituições de ensino privadas demitam todos os professores com mestrado e doutorado, para poderem contratar somente graduados, com salários muito mais baixos, para auferirem cada vez mais lucros.</div><div>Quem perde com isso é a educação superior no Brasil, já em franca decomposição por ausência de pesquisa e de produção de conhecimento e, agora, estará à mercê de um exército de profissionais com falta de competência intelectual, e com isso o nível de ensino ficará cada vez pior.</div><div>Se somarmos a esse fato a tragédia que é o ensino básico, fundamental e médio, incapaz de formar jovens com o mínimo de capacidade reflexiva, teremos uma verdadeira catástrofe no ensino do país.</div><div>Onde o lucro prepondera e a vulgarização da inteligência é uma necessidade utilitária, só podemos reconhecer que não sobrará pedra sobre pedra. O Brasil, que está em uma posição muito baixa em comparação a outros países no campo educacional e científico irá ficar em situação pior. O país cada vez mais dependerá da produção de conhecimento em outros países, em uma relação de dependência endêmica, crônica, que ao invés de gerar frutos, retira do país riquezas na forma de conhecimento.</div><div>Vamos ver até que ponto o lobby das instituições privadas irá ter força para convencer o Congresso Nacional a aprovar tal projeto de lei. Só espero que, mesmo que o Congresso aprove, a presidente Dilma vete o projeto. É o mínimo que pode acontecer e isso está agora nas mãos dos legisladores e do executivo.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-22497303393611672092011-07-11T09:46:00.001-07:002011-07-11T10:08:51.915-07:00Que bosta o que o Pondé escreveu hoje na Folha!!!Li o artigo do Luis Felipe Pondé hoje na Folha de São Paulo e não gostei, fiquei irritado até. O artigo tem como título "Objeto" e o cara começa escrevendo que toda mulher gosta de ser tratada como objeto pelos homens. Bom, comecei a refletir um pouco sobre isso e fiquei assustado, a princípio. Será que existe uma natureza humana e a mulher é naturalmente servil e submissa ao homem, e isto está relacionado com a sexualidade e com o prazer? Se isso for verdade, então podemos jogar toda a cultura no esgoto. Podemos suspender definitivamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a Constituição de 1988, o movimento feminista, até a cordialidade e a civilidade nos tratos pessoais, e devemos nos render ao barbarismo pré-histórico de pegar a mulher pelo cabelo e arrastá-la pelo chão, para que nos dê prazer, porque isso, afinal, dará prazer a ela.<div>Confesso que isso é para mim um absurdo! Acredito que na cama, o casal vive fantasias, fetiches, brincadeiras sexuais, que podem ou não ter como característica uma imaginação de patrão e secretária (hahaha...), paciente e enfermeira... bem, acho melhor parar por aqui, porque qualquer revista, masculina ou feminina, que trata de assuntos relativos a sexualidade está recheada de propostas de interpretação de papéis. Nesse sentido, pode ser que a mulher se coloque em uma posição, sexualmente falando, que requer do homem uma atitude de "dominador". Escrevo isso entre aspas porque não acredito que a mulher tenha uma atitude passiva na relação sexual! São fetiches!!! Outra coisa é o Pondé dizer que é isso que a mulher sempre quer. Que ele não consegue olhar para uma mulher a não ser como objeto sexual. PQP... Que bosta se todo homem olhar para uma mulher e vê-la como objeto sexual e a mulher gostar sempre disso! Como irá ficar a relação de amizade e respeito mútuo? Acho que o Pondé diria, então, que é impossível um relacionamento de amizade entre um homem e uma mulher.</div><div>Aí ele fala do europeu e de seus modos incorretos, e da fantasia de que nós, latino-americanos, temos em relação ao comportamento do europeu sempre como uma pessoa bem educada. Credo!!! Eu nunca achei que alguém, pelo simples fato de ser europeu, seja bem educado. Aliás, pelo contrário, quem causou as duas maiores guerras mundiais no século XX foram os europeus!!! Porra, será que o Pondé enlouqueceu??? Será que ele não tem nenhuma informação histórica e nós, reles mortais, também não temos???</div><div>Bom, na verdade, o que eu acho é que esse cara, que admiro as vezes naquilo que escreve, está querendo aparecer na mídia (fiquei sabendo que ele foi entrevistado pela Veja essa semana) como o intelectual descolado, bem resolvido, politicamente incorreto, crítico, independente entre outras coisas. Mas isso é nada mais nada menos do que marketing pessoal. O cara é experto!!! Em um momento em que a questão da igualdade está cada vez mais na pauta da vida política e cultural do brasileiro, nada melhor do que um intelectual que escreve e fala coisas provocativas, chauvinistas, extravagantes, porque assim ele aparece como a outra opção para a mesmisse, o tédio em que, pretensamente, as pessoas se encontram em um país onde está sendo visto um crescimento do sentimento de cidadania e de respeito mútuo pelas pessoas. Aí o cara vai tocar nesse tipo de assunto, só para provocar ou, no meu caso, irritar.</div><div>Porque isso irrita!!! Chamar homens civilizados e educados de "mulherzinhas" e afirmar que as mulheres, por causa disso, do fato de não serem tratadas como objeto estão indo viver como lésbicas??? E a questão da homossexualidade, como fica? Então o lesbianismo é resultado da "viadagem" dos homens??? PQP... Isso não faz o menor sentido!!! Sempre houve o homossexualismo entre homens e mulheres, mesmo nas sociedades mais machistas e violentas. Isso é um dado histórico e não tem nenhuma relação com um teor de civilidade e educação dos homens em relação as mulheres.</div><div>Esse Pondé afirma ser leitor de Nietzsche, pelo menos é o que li e ouvi da parte dele em outros espaços, inclusive no jornal da Cultura, onde ele aparece toda semana como o oráculo da pós-modernidade. Se tem algo bem diferente em relação ao que Nietzsche escreveu é esse troço de o homem ser um estúpido agressor para dar tesão na mulher!!! Parece que Pondé está fazendo a mesmo coisa que os nazistas fizeram com os textos de Nietzsche, principalmente o que trata da vontade de potência, distorcendo e manipulando o que foi escrito para justificar o que, para mim é simplesmente um comportamento recalcado de alguém que leciona teologia na PUC de São Paulo e que deve ter tido experiências com seminaristas (sem pensar os seminaristas como necessariamente propensos a experiências sexuais) e que descobriu algo em sua sexualidade que o incomoda demais e que, desta forma, precisa agora estar dizendo a todas as pessoas, por meio da Folha de São Paulo, que ele é o "macho", porque não tem vergonha de dizer que sempre olha as mulheres como objeto. É bom que as mulheres saibam disso para poderem decidir se preferem ir para a cama com alguém desse naipe!!!</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-8661737008354005122011-07-07T08:22:00.000-07:002011-07-07T08:45:15.001-07:00Mantenha fora do alcance de criançasA peça "Mantenha fora do alcance de crianças" está em cartaz de quinta a domingo, sempre as 21 horas, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, capital. O diretor Rodrigo faz um trabalho primoroso com os atores, em um cenário metalinguístico que pretende sugerir o interior e o exterior de uma casa, que pode ser relativa a qualquer classe social, mas que na peça nos remete ao imaginário da classe média brasileira, bem contextualizado. O texto da Nicole é singular, onde estão presentes diálogos, falas e provocações que sempre nos remete a algum passado acontecido ou a um futuro por acontecer. <div>Digo isso porque nossas ações não são o resultado do livre arbítrio, ou seja, não há uma separação entre corpo e mente, no sentido de podermos, idealizadamente, decidir mentalmente controlar nossas emoções e sensações, que são produto de nosso corpo. A indissociabilidade entre corpo e mente sugere que possuímos pulsões, resultado de uma biologia e de uma química que é misturada a um determinado contexto cultural e social em que vivemos, e que nos causa desconforto, que nos faz sentirmos ameaçados. Dessa forma, sob ameaça, agimos reativamente, ou seja, respondemos defensivamente àquilo que achamos que nos ameaça, em qualquer sentido, até mesmo no sentido de estarmos frustrados em relação à vida.</div><div>Não faz parte dessa lógica que as pulsões são necessariamente negativas, más, como quer uma certa tradição filosófica que nos remete a Hobbes, que dizia ser o homem o lobo do próprio homem, ou então a Kant, que acreditava na capacidade da razão controlar os impulsos corporais.</div><div>O que faz parte dessa lógica é uma ideia que perpassa o pensamento de Spinoza e Nietzsche, que não é niilista, como a peça também não é, ou seja, algo que se propõe à destruição da realidade e dos sonhos. A ideia é que se não nos sentimos ameaçados e estamos em uma situação de tranquilidade, nossas pulsões corporais não são destrutivas, pelo contrário, pois quando nos encontramos em uma situação onde podemos ser nós mesmos, agindo de acordo com o nosso querer, ampliando nossos horizontes, realizando sonhos e vontades, por exemplo, nosso corpo não sentirá necessidade de acionar o ódio ou a raiva em direção de uma outra pessoa.</div><div>O que causa a violência e a agressão é o fato das pessoas se sentirem ameaçadas por meio da repressão ou de uma violência externa ou de qualquer outra situação precária qualquer, produzindo em nós um querer reativo, de defesa, que se manifesta por meio da agressividade.</div><div>Na peça a família se mostra desintegrada, desconfortavelmente frustrada, como resultado de uma história singular, mas que pode ser a história de todas as famílias, e isso promove uma sensação de ameaça sobre si por parte do outro. O parente ou o amigo presente na festa é uma ameaça a integridade individual, porque não permite que cada um realize o que realmente quer realizar e, desta forma, o que poderia ser uma alegria se transforma em um inferno. Algo quente, mas desconfortável, como é o verão com altas temperaturas. Há uma busca de negação de si mesmo, como quando uma personagem afirma que quer mudar a cabeça e manda sua empregada fazer um artifício estético qualquer no cabelo, ou então quando o bêbado pega o microfone, em uma espécie de karaokê para si mesmo, e se é para si mesmo e não interagindo com os demais na festa, é também uma negação de si mesmo, e começa a querer lembrar de sambas antigos refastelados de melancolia, o que se torna até harmonioso com o que está acontecendo dentro da casa.</div><div>Porém, quando ficamos na expectativa de uma verdadeira explosão, porque ninguém aguenta mais as constantes agressões verbais e corporais, vem a catarse, que é o resultado do desenrolar da própria peça, onde todos os atores urinam ao mesmo tempo, jogando fora aquilo que está dentro do corpo mas não pertence a ele, em um reencontro com si mesmo, uma purgação por meio do reconhecimento da vontade de cada um em continuar vivendo em família, mas tento consciência que essa vivência é sempre conflituosa e que, para minimizar o conflito, é de fato necessário uma libertação de padrões de moralidade repressores e castradores.</div><div>Enfim, viver em família significa sofrer sempre algum tipo de repressão, mas isso não significa que não podemos nos libertar dessa repressão ao olharmos para dentro de nós mesmos e verificarmos todos os contextos, tanto biológicos e químicos quanto culturais e sociais, em que estamos enredados, e darmos asas a um lançar-se nos ares com vontade de potência e nos libertarmos das amarras que nos oprimem. O conflito é inerente à vida familiar porque a família é uma instituição repressora, que contraria o desejo que pulsa em nosso corpo. Quando permitimos ao corpo falar e se expressar, quando permitimos que nossa vontade se realize e, com isso, não nos sentimos mais frustrados ou ameaçados, não precisaremos mais utilizar da violência ou da agressão para nos relacionarmos com os demais, pois a alegria da satisfação superará todos os obstáculos morais repressivos que se manifestam no cotidiano da vida familiar.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-58548572505335217592011-07-03T16:34:00.001-07:002011-07-03T16:37:14.265-07:00Cérebro de pipoca<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; "><span style="font-size: medium; "><b>Cérebro de pipoca</b></span><br /><br /></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; ">Gilberto Dimenstein (Folha de São Paulo, 03/07/2011)<br /><table width="250" style="font-size: medium; "><tbody><tr><td><hr size="2" noshade=""><b><i>Pesquisadores detectam há tempos distorções, como a compulsão para se manter conectado, como um vício</i></b><hr size="2" noshade=""></td></tr></tbody></table><br /><br /><span class="Apple-style-span" >O GOOGLE anunciou na semana passada um projeto para enfrentar o Facebook, disposto a reinventar a mídia social. A notícia teve óbvio impacto mundial e despertou a curiosidade sobre mais uma rodada de inovações tecnológicas, capazes de nos fazer ainda mais conectados.</span><br /><span class="Apple-style-span" >No dia seguinte, porém, o Facebook reagiu e anunciou para esta semana uma novidade também de grande impacto, possivelmente em celulares. Para alguns psicólogos americanos, esse tipo de disputa produz um efeito colateral: um distúrbio já batizado de "cérebro de pipoca".</span><br /><span class="Apple-style-span" >Esse distúrbio é provocado pelo movimento caótico e constante de informações, exigindo que se executem simultaneamente várias tarefas. Por causa de alterações químicas cerebrais, a vítima passa a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e de lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente.</span><br /><span class="Apple-style-span" >A falta de foco gera entre os portadores do tal "cérebro de pipoca" um novo tipo de analfabetismo: o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, o que torna complicado o relacionamento interpessoal.</span><br /><br /><center style="font-size: medium; "> <img src="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif" /></center><br /><span class="Apple-style-span" >Sou um tanto desconfiado de notícias alarmantes provocadas pelo surgimento de novas tecnologias. Toda ruptura desencadeia uma onda de nostalgia e de temores em relação ao futuro.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Mas algumas pesquisas em torno do "cérebro de pipoca" merecem atenção por afetar o processo de aprendizagem. Uma delas foi realizada em Stanford, a universidade que, por ajudar a criar o Vale do Silício, na Califórnia, impulsionou a tecnologia da informação.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Neste ano, Clifford Nass, professor de psicologia social na Universidade Stanford, revelou num seminário sobre tecnologia da informação a pesquisa que fez com jovens que passam muitas horas por dia na internet, acostumados a tocar muitas tarefas ao mesmo tempo.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Ele mostrou fotos com diversas expressões e pediu que os jovens identificassem as emoções. Constatou a dificuldade dos entrevistados. "Relacionamento é algo que se aprende lendo as emoções dos outros", afirma Nass.</span><br /><span class="Apple-style-span" >O problema, segundo ele, está tanto na falta de contato cara a cara com as pessoas como na dificuldade de manter o foco e verificar o que é relevante, percebendo sutilezas, o que exige atenção.</span><br /><br /><center style="font-size: medium; "> <img src="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif" /></center><br /><span class="Apple-style-span" >Os pesquisadores estão detectando há tempos uma série de distorções, como a compulsão para se manter conectado, semelhante a um vício.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Trata-se de uma inquietude permanente, provocada pela sensação de que o outro, naquele momento, está fazendo algo mais interessante do que aquilo que se está fazendo. Tome o Facebook ou qualquer outra rede social.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Chegaram a desenvolver um programa que envia para o celular da pessoa um aviso sempre que um amigo dela está se aproximando de onde ela está.</span><br /><br /><center style="font-size: medium; "> <img src="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif" /></center><br /><span class="Apple-style-span" >O estímulo, porém, começa no mercado de trabalho. Vemos nos anúncios de emprego uma demanda por pessoas que façam muitas coisas ao mesmo tempo.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Mas o que Nass, o professor de Stanford, entre outros pesquisadores, defende é o contrário. Quem faz muitas tarefas ao mesmo tempo, condicionando seu cérebro, fica menos funcional. Não sabe perceber as emoções e trabalhar em equipe, não sabe focar o que é relevante e tem dificuldade de estabelecer um projeto que exige um mínimo de linearidade. Não sabe, em suma, diferenciar o valor das informações.</span><br /><br /><center style="font-size: medium; "> <img src="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif" /></center><br /><span class="Apple-style-span" >Não deixa de ser um pouco absurdo valorizar tanto os recursos tecnológicos que aproximam as pessoas virtualmente, mas que as afastam na vida real.</span><br /><span class="Apple-style-span" >Daí se entende, em parte, segundo os pesquisadores, por que, em todo o mundo, está explodindo o consumo de remédios de tarja preta para tratar males como a ansiedade e a hiperatividade.</span><br /><br />PS- Perto da minha casa, aqui em Cambridge, há uma padaria artesanal, com mesas comunitárias, que decidiu ir contra a corrente. Seus proprietários simplesmente proibiram que se usasse celular lá dentro para diminuir a poluição sonora e a agitação. Sucesso total. O efeito colateral: ficou difícil conseguir lugar.</span><div><div><div><div></div></div></div></div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-46796755341248443732011-07-01T09:02:00.000-07:002011-07-01T09:34:27.591-07:00Alguns problemas do serviço públicoOs jornais anunciaram há dias atrás uma máfia de servidores da saúde que fraudavam o livro ponto nos locais onde deveriam estar trabalhando, dedicando seus conhecimentos em benefício da população menos favorecida, que depende do serviço público para atendimentos relativos à saúde.<div>Isso é algo nefasto para toda a sociedade, a princípio, mas também é péssimo para a imagem que o servidor público tem para a sociedade.</div><div>Há um estereótipo de que o servidor público, ou funcionário público, não trabalha, não atende satisfatoriamente bem os usuários do serviço público e esse tipo de conduta colabora para que essa imagem fique solidificada na memória da população.</div><div>Antes da república, o serviço público no Brasil era uma forma de atender clientelisticamente os apadrinhados políticos, e o funcionário não tinha qualquer compromisso com a prestação de serviços à comunidade. Eram nomeados por padrinhos políticos, geralmente "coronéis", que por meio de rede de influências dentro e fora do Estado, nomeavam seus protegidos, cometendo o que hoje é considerado crime de nepotismo.</div><div>Mesmo após a criação da república essa situação se manteve. Na Primeira República, na Era Vargas, no período de 1945 a 1964 e, muito especialmente, de 1964 a 1985, durante a ditadura militar brasileira. No estado de São Paulo o ex-governador Paulo Maluf aprovou, na Assembléia Legislativa, uma lei que autorizava o executivo nomear, sem concurso público, temporariamente, funcionários estaduais para preencher lacunas nos quadros de servidores, por exemplo.</div><div>Após a constituição de 1988 o serviço público passou a ser prerrogativa de alguém que tenha passado em concurso por mérito, isto é, de forma transparente e democrática, qualquer pessoa de naturalidade brasileira, pode, por meio de prova auditada por institutos credenciados junto ao Estado, e possuindo os requisitos previamente destacados nos editais, prestar um concurso para se tornar servidor público nos três níveis, municipal, estadual e federal.</div><div>Parecia que o problema da inadequação do comportamento dos antigos servidores públicos tinha sido resolvido mas, qual o que, isso não aconteceu.</div><div>Quais seriam os fatores que impedem o bom desempenho do servidor público dentro de uma Estado democrático de Direito, como o que existe hoje em nosso país?</div><div>Não sei se vou conseguir elencar todos os fatores, mas pelo menos abro caminho para uma discussão que me parece muito séria, porque a maior parte da população brasileira, que é pobre, depende dos serviços públicos em vários setores de suas vidas.</div><div>1o) O modelo neoliberal que foi implantado no continente latino-americano a partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990 é um fator macro-histórico no processo de esvaziamento dos serviços públicos no Brasil. Sucessivamente, governos federais, estaduais e municipais estão privatizando ou terceirizando a prestação do serviço público, ou simplesmente diminuindo a prestação desse serviço por meio do enxugamento do Estado, que é a ideia de Estado mínimo neoliberal. Essa ideologia privilegia o serviço privado, alegando que ele tem melhores condições de atender a sociedade em suas demandas. Isso é falso, porque a lógica do setor privado é o lucro e não a prestação de serviços públicos e, desta forma, as empresas que assumem o papel do Estado nas mais diversas áreas, como na educação as escolas privadas ou na saúde os planos de saúde, tem dado mostras de uma incompetência para atender as demandas fundamentais da sociedade por causa de serviços mau prestados ou simplesmente não prestados, e a imprensa está recheada de críticas e reclamações a respeito do nível de ensino nas escolas privadas, básicas e de ensino superior, ou dos planos de saúde, que não dão a cobertura prevista nos contratos e muitas vezes descumprem as normas regulamentadas pela Agência Nacional de Saúde (ANS).</div><div>2o) O salário pago ao funcionalismo público, com exceção de áreas estratégicas ligadas à proteção do sistema capitalista e de suas redes de relações, como a justiça, por exemplo, é muito baixo em comparação ao salário pago pelo mercado. Isso significa que em setores estratégicos para o desenvolvimento do país, como educação e saúde, os salários pagos não atraem novos profissionais, que sentem que o serviço público é uma forma de desprestígio profissional, além de oferecer uma realidade em termos de renda que inviabiliza, no espaço de 8 horas trabalhadas por dia, se viver uma vida digna e decente, obrigando esses profissionais a trabalharem mais do que as 8 horas, em outros serviços, muitas vezes privados, se sobrecarregando, para obterem uma renda que mais ou menos os satisfaça em suas demandas.</div><div>3o) O descompromisso das elites dirigentes em relação ao serviço público, herança de um Brasil que sempre tratou desigualmente os pobres e que possui uma elite que olha mais para o exterior do que para o interior, que carece de um sentimento nacional, de compromisso com a sociedade brasileira, de responsabilidade de cumprimento de seus deveres na medida em que receberam o poder de governo por meio do voto popular democrático. Esse elitismo que existe na sociedade brasileira é um empecilho importante para a elaboração de políticas para o serviço público que efetivamente procurem dar conta da nossa realidade.</div><div>4o) A baixa auto estima dos servidores públicos, estigmatizados pela sociedade como incompetentes, porque a sociedade imbuída dos valores e ideais do neoliberalismo e do consumismo, só valoriza aquilo que é comprado. O serviço público também sai do bolso da classe trabalhadora e da classe média, por causa dos impostos, mas isso passa despercebido para muita gente, que olha o servidor público como um apadrinhado, como era no passado. Desta forma, é possível encontrar no serviço público muitos funcionários, nos mais variados setores, que são frustrados por se encontrarem em situação precária salarial e de prestígio, porque são contaminados pelo preconceito que percorre toda a sociedade.</div><div>5o) A pouca participação política da sociedade na esfera administrativa do serviço público, ou por desinteresse ou por falta de tempo ou por causa de mecanismos internos do próprio serviço público que não permitem tal participação. Isso significa que a sociedade não possui, efetivamente, mecanismos de controle da prestação dos serviços públicos pelo Estado. Muitas vezes os cidadãos fazem uma confusão entre serviço público, obrigação do Estado constitucionalmente, com benesses de políticos interesseiros, como vereadores que são meros despachantes do executivo. Mais democracia e empenho em participar das decisões do executivo e da administração permitiria uma prestação melhor do serviço público para toda a sociedade.</div><div>Enfim, apesar de elencar esses cinco fatores, creio que existam muito mais variáveis a serem analisadas a respeito dessa situação, que me parece muito importante, porque sou servidor público e procuro realizar meus deveres com dignidade e seriedade na escola em que leciono. Não é possível fraudar o livro ponto na escola. As 7 horas da manhã começam as aulas, os alunos estão presentes e se o professor não estiver, a escola requer um professor substituto, simplesmente, e o professor faltante será descontado em sua folha de pagamento. Também não é possível estar em sala de aula só de corpo presente, porque os 35 ou 40 alunos lá presentes irão incendiar a sala e o próprio prédio se o professor, simplesmente, por negligência e irresponsabilidade, se recusar a lecionar e ficar olhando para o teto da sala, sem dar atenção aos alunos.</div><div>Desta forma e guardadas as devidas proporções, o Estado tem também a função de fiscalizar os servidores públicos no seu cotidiano, avaliando o seu desempenho e, ao mesmo tempo, oferecendo condições de trabalho e salariais dignas para quem presta um trabalho tão significativo para a parcela mais pobre da população brasileira.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-1739604011725302222011-06-27T17:43:00.001-07:002011-06-27T17:57:57.036-07:00As redes sociaisO início do século XXI criou uma tecnologia que considero fantástica, as redes sociais, que usam da internet e dos pcs para entrarem em contato, estabelecerem comunicação instantânea entre as pessoas, independente de cor, credo, filiação partidária, local onde vive, idade, riqueza ou pobreza, entre tantas coisas.<div>Acredito no poder gigantesco das redes sociais. Elas são capazes de fazer cumprir a profecia do especialista em comunicação norte-americano, Marshall McLuhan em seu livro "A galáxia de Gutemberg", que é a criação de uma aldeia global. Não no sentido das pessoas pensarem da mesma forma, pelo contrário, da possibilidade dos diferentes, dos desiguais, expressarem o que pensam e, desta forma, enriquecer o debate democrático com a participação da minoria, seja de qual tipo for.</div><div>Como na sociedade que eu chamaria de real, porque as redes sociais são virtuais, as pessoas comunicam aquilo que pensam. É só dar uma olhada em qualquer página de rede social que poderá ser visto o que a maioria da população pensa. São as famosas mediocridades já avisadas por Schopenhauer que dizia porque as pessoas jogam cartas. Como elas não têm nenhuma ideia para trocar, trocam cartas!</div><div>Não sou tão pessimista e desanimado como Schopenhauer. Procuro ser um realista otimista. Então, acredito que os blogs, os facebooks etc servem para todo tipo de coisa, desde falar qualquer merda ou marcar um encontro sexual até elaborar um protesto político significativo que irá provocar os leitores virtuais a pensarem.</div><div>Acho que as redes sociais devem ser utilizadas nas escolas, entre alunos e professores, para que exista um ambiente de maior liberdade e questionamento entre eles. Estou me lembrando de um comercial norte-americano em que uma criança pergunta para um professor se ele é que vai dar aula. Se for, a criança pergunta se ele tem um computador, se sabe navegar na internet etc. Ou seja, em tempos de tecnologia da comunicação tão adiantada, não é possível pensar o professor usando o mesmo livro didático, o mesmo giz e a mesma lousa e, o que é pior, o mesmo discurso de sempre, baseado em suas fichas amareladas. É preciso botar pimenta e mais tempero nesse pirão que está sendo feito com as tecnologias.</div><div>Sem medo! Se tiver que se fazer uma crítica, deve-se ponderar se ela é ou não pertinente, o mesmo vale para elogios. As crianças e os jovens não são idiotas, porque sabem o que querem e querem ser, antes de tudo, ouvidos pelos adultos. Sem hierarquização de poder entre professores e alunos. Pela liberdade de expressão e igualdade de tratamento, com respeito e dignidade de ambas as partes.</div><div>Quem dera pudesse toda criança e todo jovem da escola pública ter um netbook e cada escola ter wireless em número suficiente para plugar todos esses pcs à internet no horário da aula.</div><div>Alguns poderão dizer: mas o aluno irá ficar navegando em páginas nada a ver enquanto o professor explica o conteúdo. Que bobagem! Leciono há 28 anos e sei muito bem quando um aluno está no mundo da lua, sem netbook, apenas sentado na carteira olhando perdido para o horizonte, e quando ele está ligado na aula. É o professor que faz a diferença. Ele é que tem que motivar o aluno, fazer com que o mesmo preste atenção, não por medo da prova, mas pelo que é interessante no assunto abordado e na forma como o assunto é abordado.</div><div>Enfim, é fundamental democratizar o acesso à tecnologia da informação para toda a sociedade para que não somente a escola mude seu perfil, mas também a democracia tenha respaldo e se consolide definitivamente.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-12348878987498921422011-06-27T16:50:00.001-07:002011-06-27T17:11:41.598-07:00O Brasil mudou!!!Hoje, 27 de junho de 2011, na Fundação Getúlio Vargas, foi apresentada uma pesquisa feita por diversos economistas sociais, sobre o crescimento econômico e a distribuição de renda no Brasil nos últimos anos. Para quem acha que economista é um nerd que fica com a calculadora na mão, como querem os patronos da autarquia municipal dessa cidade, ou então que são investidores neoliberais autodenominados de empreendedores, como quer a escola de negócios dessa mesma cidade, economista social é um especialista em combinar a aritmética econômica, como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) com o nível de vida e expectativa de felicidade da sociedade, por exemplo.<div>Então, a pesquisa, que pode ser acessada pelo blog do Paulo Henrique Amorim (www.conversaafiada.com.br), informa que dos cinco países emergentes, o chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que em 2030, é a previsão, terão a maior fatia da produção econômica mundial, o Brasil foi o que de longe mais distribuiu renda para a população pobre, elevando para a categoria de classe C, ou seja, classe média, aproximadamente 40 milhões de pessoas, mesmo que tenha tido um crescimento do PIB inferior ao dos outros quatro países.</div><div>Isso significa que a curva da miséria no Brasil está em declínio, um feito histórico, levando em consideração que nos últimos 500 anos o Brasil teve uma história de vertiginosa desigualdade social.</div><div>Esse fato deve ser atribuído, primeiramente, ao governo FHC, que colocou um ponto final na hiperinflação que o país vivia e também estabilizou a moeda e deu garantias aos mercados internacionais. Porém, o governo do tucano não fez quase nada em relação ao social. </div><div>As ações que priorizaram o combate a miséria foram obra do presidente Lula e do PT, de 2003 a 2010, e que está tendo continuidade com o governo da presidente Dilma. </div><div>Essa questão política é fundamental, porque estabelece uma linha divisória ideológica entre os dois mais importantes partidos políticos brasileiros: o PT e o PSDB.</div><div>O PMDB é, sem dúvida, um partido importante, do ponto de vista dos votos no legislativo e no controle de prefeituras, mas não é um partido com ideologia definida, é corporativo e rema a favor da maré, e isso é perigoso, mas não dá para governar o país em uma democracia sem o voto os peemedebistas. É por isso que o vice da Dilma é o Temer.</div><div>A mídia marrom, ou seja, vendida aos interesses conservadores nacionais, como é a revista Veja, por exemplo, costuma inventar factóides sobre membros do governo petista, como foi o caso do Palocci. Ele era o membro do governo mais vinculado ao mercado financeiro, com maior capacidade de diálogo com os donos da banca do cassino e, por causa disso, era o ministro da Casa Civil, para estabelecer um link entre o governo Dilma e o mercado, porque sem isso não é possível governar o Brasil, porque haveria um golpe militar ou um assassinato. Então, os opositores casuísticos do PT e do governo Dilma jogaram na imprensa marrom a hipótese de enriquecimento ilícito e devido aos ventiladores, que espalham qualquer coisa no ar, ele pediu demissão. É isso!</div><div>Por outro lado, a ausência do Palocci não terá fortes repercussões junto ao empresariado, porque mesmo diante de tantas provocações, a Dilma irá respeitar os contratos e continuará colocando mais gente na classe C, que salvou com o consumo interno, o Brasil da crise econômica de 2008.</div><div>Agora é continuar apostando no desenvolvimento e melhor a educação e a saúde pública, mas isso depende muito da vontade política dos estados e dos municípios, e menos do governo federal. E nas mãos de quem estão a maioria dos estados e dos municípios? Não é nas mãos do PT...</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-76029673312698195602011-06-25T09:24:00.000-07:002011-06-25T09:25:38.762-07:00Sobre raciocínio e discussões...Achei muito interessante essa reportagem da Folha de São Paulo de hoje sobre a importância do debate, do conflito entre ideias, para o desenvolvimento do raciocínio e, portanto, do conhecimento. Boa leitura!<div><br /></div><div><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span ><b>Raciocínio evoluiu por causa de discussões</b></span><br /><br /><b>Estudo contraria ideia de que a razão se desenvolveu para achar a verdade</b><p><b>Teoria de cientistas franceses explicaria porque raciocínio das pessoas é cheio de inconsistências e vieses</b></p><p><b>HÉLIO SCHWARTSMAN</b><br /><span >ARTICULISTA DA <b>FOLHA</b></span><br /><br />Num artigo impactante, que vira do avesso alguns dos pressupostos da filosofia e da psicologia evolucionista, os pesquisadores franceses Hugo Mercier (Universidade da Pensilvânia) e Dan Sperber (Instituto Jean Nicod) sustentam que a razão humana evoluiu, não para aumentar nosso conhecimento, mas para nos fazer triunfar em debates.<br />Desde alguns gregos, mas especialmente com René Descartes (1596-1650), consolidou-se a ideia de que a razão é um instrumento pessoal para nos aproximar da verdade e tomar as melhores decisões possíveis. "Penso, logo existo" é a divisa que celebrizou o pensador francês.<br />Se esse esquema é exato, como explicar que o pensamento humano erre tanto? Como espécie, fracassamos nos mais elementares testes de lógica, não conseguimos compreender noções básicas de estatística e nascemos com uma série de vieses cognitivos que conspiram contra abordagens racionais.<br />A situação não melhora quando quando abandonamos o reino das abstrações para entrar no terreno do interesse pessoal. Vários estudos têm mostrado que a maioria das pessoas comete verdadeiros desatinos lógico-financeiros ao administrar seus fundos de pensão.<br />Mercier e Sperber afirmam que é possível explicar esse e outros paradoxos se deixarmos de lado a noção clássica para adotar o que chamam de teoria argumentativa. Apresentam uma convincente massa de estudos e evidências em favor de sua tese.<br />A ideia básica é que a capacidade de raciocinar é um fenômeno social e não individual, cujo objetivo é persuadir nossos semelhantes e fazer com que sejamos cautelosos quando outros tentam nos convencer de algo.<br /><br /><b>SOLUÇÕES</b><br />A teoria, dizem os autores, não só faz sentido evolutivo como ainda resolve uma série de problemas que há muito desafiavam a psicologia.<br />O mais importante deles é o chamado viés de confirmação, que pode ser definido como "buscar ou interpretar evidências de maneira parcial, para acomodar crenças, expectativas ou teorias preexistentes". O fenômeno está na base daquela mania irritante de políticos de só responder o que lhes interessa.<br />O viés de confirmação é ainda uma das razões de persistência no erro, mesmo quando ele nos prejudica.<br />Temos dificuldade para processar informações que contrariam nossas convicções. Em suas versões extremas, ele produz pseudociências, fé em religiões e sistemas políticos e também teorias da conspiração.<br />Sob o modelo clássico, o viés de confirmação é uma falha de raciocínio mais ou menos inexplicável.<br />Mas, se a razão foi selecionada para nos fazer vencer em debates, então faz sentido que eu busque apenas provas em favor da minha tese, e não contra ela.<br />Adotada a lógica da produção de argumentos, o que era erro se torna um dos pontos fortes da teoria.<br /><br /><b>FENÔMENO SOCIAL</b><br />O modelo tem, evidentemente, implicações fortes. A mais evidente delas é que a razão só funciona bem como fenômeno social. Se pensarmos sozinhos, vamos muito provavelmente chafurdar cada vez mais fundo em nossas próprias intuições.<br />Mas, se a utilizarmos no contexto de discussões, aumentam bastante as chances de, como grupo, nos dar bem. Ainda que nem sempre, por vezes as pessoas se deixam convencer por evidências.<br />Trabalhos mostram que, quando submetidas a situações nas quais é preciso chegar a uma resposta correta (testes matemáticos ou conceituais), pessoas atuando sozinhas se saem mal, acertando em torno de 10% das respostas (Evans, 1989).<br />Quando têm de solucionar os mesmos problemas em grupo, o índice de acerto vai para 80%. É o chamado efeito do bônus de assembleia.</p></span></div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-88194876924639108432011-06-24T09:09:00.000-07:002011-06-24T09:37:22.930-07:00190 anos de São João da Boa Vista<div><img src="http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_10/Reg10_SJBVista.jpg" /></div><div><br /></div>Hoje a cidade de São João da Boa Vista completa 190 anos. É muito tempo e muita história. Porém, ao vislumbrar o que se fala ou se escreve nos meios de comunicação da cidade parece que tudo é uma maravilha. Uma concepção linear de tempo transpassa qualquer discurso sobre a cidade, revelando uma crença ingênua no progresso e no desenvolvimento.<div>A prefeitura e a Câmara fazem elogios ao programas sociais desenvolvidos na cidade, mas que são precários e não atendem a maioria dos excluídos da população. A cidade carece de muitas coisas e não existem iniciativas para valer no sentido de suprir as demandas sociais.</div><div>Um exemplo patético é o da educação infantil. As escolas municipais estão com classes superlotadas, com poucos professores disponíveis, muitos de licença médica, porque não aguentam cuidar, porque educar é um sofisma, de quase quarenta crianças em uma sala de aula, na faixa etária dos seis ou sete anos. Não vou nem dizer o salário dos professores, que em geral está acima do pago pelo estado, mas que é indigno para o serviço prestado por esses profissionais que se dedicam a alfabetizar o que a elite costuma chamar de cidadãos (eleitores?) de amanhã.</div><div>Parece que tudo está em festa. O sistema de transporte é uma porcaria. Para que a empresa privada que possui a concessão do transporte público possa ter mais lucros, disponibiliza, com o apoio do poder público, poucas linhas de ônibus, que transformam o deslocamento da população em um martírio. Quantos são aqueles que precisam esperar trinta, quarenta ou até cinquenta minutos para que o ônibus os leve até o ponto mais próximo de sua casa, porque a empresa precisa percorrer com o mesmo ônibus um trajeto muito maior do que o necessário, para resguardar os lucros capitalistas tão almejados. E dá-lhe a população que se fosse a pé ou de charrete poderia chegar mais rapidamente no destino.</div><div>Como o transporte público está uma droga, ocorre o inchaço da ruas pelos motoboys. O mototáxi tornou-se a praga do trânsito da cidade e uma forma de enganar as taxas de desemprego. Hoje em dia qualquer desempregado, porque emprego é artigo de luxo na cidade, a não ser aquele que oferece salário mínimo e uma jornada diária de quase dez horas de trabalho, compra uma motocicleta ou se dispõe a trabalhar para uma empresa que possui o veículo, e tenta ocupar o espaço vago deixado pelo transporte coletivo.</div><div>Não quero demonstrar rabugisse em relação a cidade. Aliás, adoro essa cidade. Vivo aqui há trinta anos e não pretendo sair de um lugar que para mim é tão acolhedor. O problema é que não posso julgar o lugar em que vivo bem a partir somente de minha experiência. Preciso analisar o que acontece com o restante da população. O plano diretor da cidade criou um apartheid social baseado em uma divisão urbana que desloca as residências de classe média alta e classe alta para a região da Mantiqueira, onde é proibido construir qualquer equipamento comercial, mas permite que nos bairros pobres de periferia, que fica no sentido oposto da Mantiqueira, se formem qualquer negócio que perturba o sossego e o sono dos moradores, mas porque é uma região proletária, tudo pode.</div><div>Me irrita a falta de senso crítico por parte dos meios de comunicação da cidade, que mais parecem despachantes do poder público do que aquilo que geralmente se designa com o nome de imprensa e jornalismo. Ler qualquer jornal da cidade é uma ato de paciência para monge medieval. Não há criticidade e muito menos reflexão. O que se lê são notícias plantadas pelo poder público ou pelo partido político que domina a cidade, o PSDB e seus mentores intelectuais. As notícias sobre assuntos policiais são patéticas. Manchetes sobre furto ou uso de entorpecentes mais parecem com o antigo Notícias Populares, só que com um texto parecido com um boletim de ocorrência. E o necessário espaço para que a opinião pública manifeste seu descontentamento em relação ao que ocorre na cidade? Esse espaço, quando existe, é sempre censurado.</div><div>O poder público oferece a política do pão e circo, com a tal festa junina no recinto de exposições e depois, em julho, com a feira agropecuária, que só gera lucro para empresários de fora da cidade que realizam os mega eventos de baixa qualidade, para ludibriar a população ingênua e sem consciência política, que fica passeando na quermesse ou economizando as migalhas que sobram dos salários baixos pagos pelo comércio varejista para comprar as entradas para a tal Eapic e assistir shows de axé e de breganejo.</div><div>Claro que existem eventos culturais legais e importantes como a virada cultural, a semana Guiomar Novaes, as apresentações da orquestra sinfônica municipal, entre outros. Mas são muito pouco divulgados para a maioria da população e ocorrem, geralmente, no centro da cidade, que fica longe da residência da população mais carente que, por não ter dinheiro para a condução, acaba não participando desses eventos tão bem montados.</div><div>Então, hoje que é um dia comemorativo, porque são poucas as cidades brasileiras que têm 190 anos de idade, quero por um lado dizer que fico feliz em viver em uma cidade tão bela como São João da Boa Vista, mas fico indignado com a falta de debates públicos sobre a política, a economia, a sociedade e a cultura da cidade, que possui uma elite dirigente que não se preocupa com o futuro dos setores sociais marginalizados, constituídos principalmente pelos pobres com baixa qualificação educacional e profissional.</div><div>Muita coisa tem que ser feita para a cidade realmente melhorar, e não basta criar mais empregos, porque os salários são baixos. É preciso criar empregos com salários melhores e qualificar a população pobre no campo da educação e da profissionalização. Os resultados de uma política pública que realmente tenha vontade de modificar a ordem existente permitirá que daqui a alguns anos possamos comemorar talvez os 200 anos da cidade com muito mais alegria do que comemoramos hoje.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-18237831707881147672011-06-14T13:02:00.001-07:002011-06-14T13:05:43.692-07:00Tradições e novas provocações...<div><img src="http://blogfilosofiaevida.com/wp-content/uploads/2011/06/filosofia_320.png" /></div><div><br /></div>O estudo da Filosofia é vasto o suficiente para encontrarmos diversas tradições filosóficas na história. A tradição mais comum, a que aparece em demasia nos currículos escolares do ensino básico, fundamental e médio, e também no universitário, remonta a Sócrates e Platão.<br /> A tradição socrático-platônica pressupõe a realidade divida em duas esferas. O mundo sensível, que é o mundo em que nós vivemos, é vista por Platão como uma sombra, uma cópia imperfeita do mundo das ideias. Essa narrativa pode ser encontrada no mito da caverna, exposto no livro VII da “República”.<br /> Essa tradição separa o mundo material do mundo espiritual, entendo aqui espírito como as ideias produzidas pela mente humana. O mundo material é uma sombra porque está em constante dinâmica, movimento e transformação, nunca estável e, dessa forma, impossível de ser compreendido e conhecido enquanto conceito e verdade. Nesse mundo o que prevalece são as opiniões (doxa).<br /> É no mundo das ideias onde se encontra a realidade, porque essa por ser verdade e, consequentemente, conforme afirmava Platão, é bela. Na alegoria da caverna Platão compara a ideia suprema do bem e do belo com a luz do Sol porque, segundo ele, essa verdade é tão superior que os humanos não possuiriam palavras e conceitos para nominá-la ou descrevê-la.<br /> O cristianismo se apropriou do platonismo e fez uma transposição do mundo das ideias para o mundo após a morte, o mundo espiritual no sentido religioso, onde encontraria-se a vida eterna. Já o mundo material também é apropriado pelo cristianismo como um mundo transitório, agora configurado com a ideia do pecado e da culpa, inerente ao corpo.<br /> A dicotomia entre o corpo e a alma, para o cristianismo de origem platônica, é fundamental para se entender a tradição filosófica que chega em Descartes com o argumento do cogito (“penso, logo existo”). Nessa argumentação cartesiana, exposta em livros como “O discurso do método” e “Meditações de primeira filosofia”, a mente humana, onde ocorre o pensamento, está independente do corpo. Na verdade, para Descartes, o corpo é visto como uma máquina, uma estrutura sistêmica subordinada ao pensamento e todo o processo de conhecimento passa fundamentalmente pelo cogito.<br /> Nesse sentido, o que se encontra na maioria dos manuais de Filosofia, é a presença de uma tradição filosófica, que começa em Sócrates e Platão, passa pelo cristianismo medieval e consolida-se com Descartes no século XVII, que apresenta uma concepção imaterial do pensamento e, do ponto de vista ético, subordinando os sentidos e as emoções, como formas de apropriação do conhecimento, a racionalidade do intelecto.<br /> Na contramão dessa tradição, encontramos o filósofo judeu de origem portuguesa, que passou a viver na Holanda para fugir das perseguições religiosas católicas na Península Ibérica e luteranas na Alemanha, no território do antigo Sacro Império Romano Germânico, chamado Baruch (Benedito) Spinoza (Espinosa).<br /> Esse intelectual e filósofo moderno, pois viveu no século XVII, que é o mesmo século de Descartes e de Galileu, recupera uma tradição materialista que vem da antiga Grécia, de Demócrito, com sua teoria atômica, e de Epicuro, com seu hedonismo, também chamado de epicurismo.<br /> Vale à pena recordar o que dizia Demócrito. Para ele, o mundo, que podemos hoje entender por universo, por natureza, é constituído exclusivamente de átomos. Esses átomos se juntam conforme seus tamanhos e formas, dando origem aos seres, animados e inanimados. Nesse sentido, para Demócrito, não existe vida após a morte, porque esta é simplesmente a desintegração atômica dos seres vivos.<br /> Nessa tradição materialista, durante o período do helenismo, surge Epicuro que funda uma escola em Atenas chamada de “O jardim”. Epicuro afirmava que não nos devemos preocupar com a morte, porque enquanto estamos vivos ela não veio e, quando morremos, já não estamos mais vivos. Ele até podia acreditar nos deuses, mas esses eram absolutamente felizes e não se preocupavam com a humanidade, não importando qualquer tipo de oração ou sacrifício para pedir uma intervenção divina no mundo mortal.<br /> Tanto Epicuro como Demócrito acreditavam em uma força vital, extremamente forte, existente na natureza. Essa ideia de uma força vital aparece em Spinoza com a ideia de connatus. Spinoza afirmava que os seres humanos possuem dentro de si uma força vital natural, presente em toda a natureza, uma força que permite a pulsão da vida, o nascimento dos seres vivos.<br /> Entendia que Deus era a própria natureza e, desta forma, nós não podemos acreditar em Deus, mas sim, conhecer Deus, e isso quer dizer que Deus se manifesta como uma totalidade (monismo) em todos os seres singulares, na vitalidade existente dentro de cada um.<br /> Para Spinoza essa força vital faz a natureza se movimentar e existir.<br /> Do ponto de vista ético, tal preceito permite analisar o ser humano em seus comportamentos sociais, como conhecedores ou não dessa força vital, e isso significa dizer que os humanos têm a possibilidade sempre de reverter a tristeza em alegria, de tal maneira que é só necessário permitir a manifestação de Deus, da própria natureza, a partir da noção de uma força vital dentre de cada um.<br /> Para Spinoza tudo era determinação e a liberdade está em conhecer o que a natureza estipula para os humanos. Nós seremos livres se dissermos um “sim” para a vontade da natureza. Essa forma de pensamento reduz a importância da racionalidade como determinante de escolhas, conforme pode aparecer em Descartes. Não é o intelecto que comanda o ser humano, mas sim a força vital do desejo que pulsa em sua própria natureza.<br /> Essa pulsão do desejo é mal vista pela tradição socrático-platônica, pelo cristianismo e pelo cartesianismo, pois consideram a verdade do corpo e da natureza como sacrílegas e heréticas. O objetivo dessa tradição é anular o que há de natural dentro e fora de nós, buscando um tipo de ascetismo, de puritanismo que afeta nossa vida em sua intensidade. A rendição aos princípios do mundo das ideias é a derrota frente a um projeto histórico-cultural que se assemelha a um tipo de assepsia e limpeza que não é possível atingir. Como resultado dessa tentativa temos a construção de um mundo racionalizado pela lógica do capital e da eficácia, burocratizado e administrado como são as empresas, onde os indivíduos são peças de uma grande engrenagem, a serviço de objetivos que não são deles e que, em última instância, não são nem dos detentores do capital, que são levados a práticas cotidianas visando a acumulação material em nome de uma felicidade impossível.<br /> Essa prática histórica gera um processo neurótico, de alienação da realidade e de negação da força natural no interior de cada ser humano. Essa força interna é chamada por Schopenhauer de “Vontade”, uma força invisível que está presente em toda a natureza e que movimenta o universo e, com ele, a própria humanidade. Spinoza irá dizer que mesmo que o indivíduo pense que está agindo racionalmente, na verdade ele está sendo impulsionado pela força universal, esse Deus presente em todas as coisas. Porém, como o objetivo do racionalismo é o controle das emoções, ocorre que as motivações são racionalizadas e trancadas no inconsciente, impedidas de se manifestarem. O desespero que esse vazio existencial determina lota os templos religiosos de fanáticos que buscam por um Deus pessoal, capaz de interferir na vida cotidiana, que não existe.<br /> Não adianta se ajoelhar e erguer as mãos para o céu, pois o céu não existe. Copérnico, há mais de 500 anos atrás, provou que a Terra não é o centro e que o que se pensa estar em cima é nada mais do que o Espaço, repleto de planetas, estrelas e galáxias. Como é bizarro ver alguém falando com o nada. É quase um exercício de loucura individual que, no contexto das religiões, torna-se loucura coletiva.<br /> Em Nietzsche a questão da moral torna-se fundamental. O pensador alemão procura mostrar que a moral foi criada historicamente pela humanidade, a partir de instituições sociais como a religião ou o Estado, para condicionar a vontade de potência que deveria reger nossas atitudes enquanto seres humanos. A vontade de potência nietzschiana, presente no desejo de avançar perante a vida, de assumi-la plenamente em toda a sua dor e alegria, é o que nos faz sentirmos vivos e existentes. Negar a dor ou a alegria é uma forma de se encontrar morto em vida.<br /> Nietzsche afirma que o homem é como uma corda, que se encontra entre o animal e o além do homem. O animal é a força vital em toda a sua pureza, da qual escapamos por meio do ego e da cultura, que Freud irá chamar de superego. Já o além do homem é alguém, se isso existe, que se desvinculou de toda a moralidade imposta pela sociedade e que cria suas próprias regras, com coragem e determinação, buscando dentro de si o que ele é de verdade, suas vontades e desejos, sem escrúpulos ou terrores.<br /> Essa manifestação dionisíaca em uma sociedade repleta de imposições e castrações só pode ser exercida e exteriorizada por meio da arte, na sua capacidade criativa do novo, no seu desvendamento de instâncias de alegrias inimagináveis, de sonhos insuperáveis. O além do homem é algo pelo qual deveríamos procurar e alcançando, utilizarmos do que há de apolínio e, portanto, de belo, para marcar nossa presença no mundo.<br /> Não se trata aqui de voltarmos ao estado natural selvagem, apesar de que não há nada no mundo que prove que tal estado não nos traria alegria e felicidade, pois em um mundo em que o que há de selvagem dentro de nós foi calado, a alegria e a felicidade parecem estar muito distantes. Trata-se, na verdade, de associar-se o dionisíaco, enquanto vontade de potência e negação da moralidade imposta ao apolínio, harmônico e belo, que se manifesta no ato da criação artística, e que se deverá manifestar em qualquer ato de criação. Desta forma iremos construir um mundo onde a liberdade não será mais um privilégio de poucos, mas uma realidade inerente a todo o ser humano. Um mundo onde a educação estará voltada para a imaginação e a criação, sem podas ou transferências, sem imposições coercitivas de toda ordem, onde a individualidade será respeitada porque, só haverá igualdade, no momento em que cada homem ou cada mulher falará com o outro do mesmo patamar, com os olhos nos olhos do outro.<br /> Essa utopia que nasce com Spinoza, continua em Schopenhauer e Nietzsche, mas que possui outros defensores na contemporaneidade, assim como conheceu seus imaginadores na antiguidade grega e romana é, como toda a utopia, algo inalcançável mas, nem por isso, devemos negá-la. Deve servir de paradigma, de referência histórica para a busca de uma vida plena, mais livre e feliz.<br /> Mas como venho escrevendo sempre, essa tal felicidade só pode ser encontrada no âmbito do possível, sem esperança e idealização. Como disse Sponville certa vez, é melhor uma verdade dolorosa do que uma felicidade idealizada.<br /> Fiquemos com a realidade, tal como ela nos é sugerida pela vida, porque ela é a própria vida que não tem mais a nos oferecer do que a nossa própria existência. Desejar uma vida plenamente feliz só é possível no cemitério. Se alguém quiser ser realmente, na sua totalidade, feliz, deve se matar o mais rapidamente possível, porque viver é também compartilhar com os outros as dores e sofrimentos que a vida nos oferece sempre, temperada com pitadas de alegria que só serão ampliadas na medida em que nos dispusermos a retornar sempre, e repetir tudo de novo, em sua absoluta intensidade, afirmando e reafirmando a vida em sua plenitude, isto é, sabendo a dor e a delícia de ser o que se é.Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-15996456600370401532011-05-23T09:32:00.000-07:002011-05-23T09:33:34.984-07:00A mediocridade da classe média<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span ><b><div><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span ><b>A mediocridade que ronda a sociedade consumista é enorme. Neste artigo, o filósofo Luis Felipe Pondé reflete sobre a mesmice da classe média, que não se trata de extrato bancário, mas de um estado de espírito. Boa leitura!</b></span></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span ><b><br /></b></span></span></div>Flagelo da classe média</b></span><br /><br /><table width="250"><tbody><tr><td><hr size="2" noshade=""><b><i>Basta ver o tanto de bobagens que se fala no Facebook, tipo "fui ao banheiro"</i></b><hr size="2" noshade=""></td></tr></tbody></table><br /><br />NÃO SOU BEM RESOLVIDO, tenho muitos preconceitos. Um deles é contra a classe média.<br />Além disso, sou cheio de maus hábitos: charutos, cachimbos, álcool, comida com sangue e não ando de bike. Para mim, o vício e a culpa são o centro da vida moral.<br />Enfim, não sou uma pessoa muito saudável. Por isso, não sou de confiança. Mas não pense que sofro do fígado; sou apenas um fraco.<br />Tenho uma amiga, muito inteligente, que costuma me chamar de "flagelo da classe média".<br />Quando falo "classe média", não olhe para seu saldo bancário, olhe para dentro de si mesmo. Classe média é um estado de espírito, e não apenas uma "alíquota" do imposto de renda ou o tipo de cartão de crédito que você tem.<br />Uma das marcas da classe média é pensar que, quando se fala de classe média, pensa-se essencialmente em saldo bancário.<br />Você pode ter muita grana e pensar como classe média, quer ver? Vou dar um exemplo de um surto de classe média em alguém que não era da classe média.<br />O sociólogo húngaro radicado na Inglaterra Frank Furedi, em seu livro "Therapy Culture", comenta como a Lady Di (morta tragicamente em 1997), a "princesa da classe média inglesa" ou a "princesa do povo", lamentou para a mídia o fato de seu então marido, príncipe Charles (herdeiro do trono da Inglaterra), ter uma amante.<br />Podemos imaginar uma mulher do East End londrino se sentindo irmã da então princesa porque ambas sofreriam da mesma maldição: a infidelidade em um casamento infeliz. Choravam juntas, uma na frente da TV, outra na frente das câmeras.<br />Lady Di nunca entendeu o que é ser da aristocracia, confundiu-se com a classe média e seus anseios de que casamento, amor e felicidade sejam uma coisa só.<br />Mas não há muito o que fazer com relação à realeza hoje em dia, porque vivemos no mundo da opinião pública e "ter opinião sobre tudo" é um fetiche típico do espírito de classe média. Alexis de Tocqueville (1805-1859) já dizia que a democracia é tagarela.<br />Quando se depende da opinião pública já não há mais saída para escapar das "redes sociais" típicas do mundo contemporâneo, no qual as pessoas têm opinião sobre tudo a partir de seus apartamentos de dois quartos com lavabo.<br />Basta ver o tanto de bobagens que se fala no Facebook, tipo "fui ao banheiro" ou "vomitei". Além de "revoluções diferenciadas", as redes sociais potencializam a banalidade humana.<br />Quando a classe média sonha, ela sempre pensa como Cinderela. "Querer ser feliz" é coisa de classe média.<br />Você pode ser milionário e ter cabeça de classe média, por exemplo, quando faz algo preocupado com o que os outros vão pensar. Nada mais típico do espírito da classe média do que citar um restaurante numa ruazinha em Paris para mostrar que conhece a cidade.<br />Por outro lado, você pode ser uma pessoa que "batalha" pela vida e não pensar como Cinderela. Basta não criar de si mesmo uma imagem de "reduto do bem e da honestidade". O bom-mocismo social é o novo puritanismo hipócrita do início deste século.<br />Uma clara semelhança de espírito entre "aristocracia" e as classes sociais mais pobres (aparente absurdo) é a pouca ilusão com relação à hipocrisia social, substância da moral pública.<br />A primeira porque está acima da hipocrisia social (não precisa dela porque tem poder), e a segunda porque está abaixo da mesma hipocrisia social (não pode bancar a hipocrisia porque hipocrisia é um pequeno luxo).<br />O que caracteriza o espírito da classe média é pensar mais de si mesma do que ela é. Já que não tem nada, mas não morre de fome, fabrica de si mesma uma história de grandeza que não existe.<br />Por exemplo, inventa para si mesma uma "história de dignidade familiar", quando ninguém sobrevive sendo "digno", acha que educa bem seus filhos sempre "brilhantes", calcula cada proteína que come, num movimento de ganância travestido de preocupação com a vida, diz coisas como "não minto", quando, sabemos, a vida se afoga em mentiras necessárias à própria vida.<br />A classe média adora ter uma família de pobres como "amigos" para exibir por aí. Enfim, a classe média sofre de avareza espiritual.</span>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-16552827911358578572011-05-22T11:53:00.000-07:002011-05-22T11:55:22.036-07:00Exste vida após a morte?Esse é um assunto que interessa a todo o mundo. Já escrevi alguma coisa sobre isso, mas não sei se me deram ouvidos. Então, ao acabar de ler o último artigo do Marcelo Gleiser na Folha de São Paulo de hoje, posto o mesmo para quem quiser refletir sobre o assunto. Boa leitura!<div><br /></div><div><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; "><span ><b>Sobre a vida após a morte</b></span><br /><br /><table width="250"><tbody><tr><td><hr size="2" noshade=""><b><i>Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido,embora a esperança de que ela exista seja muito compreensível</i></b><hr size="2" noshade=""></td></tr></tbody></table><br /><br />Já que no domingo passado escrevi sobre o fim do mundo (era para ter sido ontem), é natural continuar nossa discussão refletindo sobre vida após a morte. especialmente nesta semana, quando o famoso físico Stephen Hawking falou do assunto em entrevista ao jornal inglês "The Guardian". "um conto de fadas para pessoas que têm medo do escuro", disse.<br />Mantendo a discussão ao nível "científico", o que podemos falar sobre experimentos que visam detectar vida após a morte?<br />eis o que escrevi sobre o tópico em meu livro "Criação Imperfeita": "quando ingressei no curso de física da PUC do Rio em1979, era a encarnação perfeita do cientista romântico, com barba, cachimbo e tudo.<br />Lembro-me, com um certo embaraço, do meu experimento para 'investigar a existência da alma'. Se a alma existia, pensei, tem que ter uma natureza ao menos em parte eletromagnética, de modo a poder animar o cérebro. e se eu convencesse um hospital a dar-me acesso a um paciente em coma, já prestes a morrer? Assim, poderia circundá lo com instrumentos capazes de detectar atividade eletromagnética.<br />Talvez pudesse detectar a cessação do desequilíbrio elétrico que caracteriza a vida [...] Por via das dúvidas, o paciente deveria também estar deitado sobre uma balança bem precisa, caso a alma tivesse peso." Continuo:"Na verdade,minha incursão no terreno da "teologia experimental" era mais brincadeira do que algo que levei a sério. Porem, minha metade vitoriana charlatã, devo dizer, tinha ao menos um predecessor.<br />em 1907, um certo Dr. Duncan MagDougall de Haverhill, em Massachusetts, conduziu uma série de experimentos para medir o peso da alma.emborasua metodologia fosse altamente duvidosa, seus resultados foram mencionados no prestigioso "New York Times":"Médico crê que alma tem peso", afirmou a manchete. O peso era em torno de 21,3 gramas, embora tenha havido algumas variações entre os poucos pacientes investigados. Como grupo de controle, ele pesou 15 cães, mostrando que eles não sofriam qualquer mudança de peso. O resultado não o surpreendeu, pois suspeitava que só humanos têm almas."<br />Os experimentos de Mag Dougall inspiraram o filme "21 Gramas", com Sean Penn fazendo o papel de um matemático à beira da morte.<br />De volta a Hawking, devo dizer que concordo com ele. Tudo o que sabemos sobre como a natureza opera indica que a vida é um fenômeno bioquímico emergente que tem um início e um fim.<br />Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido: existe a vida, um estado complexo da matéria em que um organismo interage ativamente com o ambiente, e existe a morte, um estado em que essas interações tornam-se passivas.<br />Morte é ausência de vida. (Mesmo o vírus só pode ser considerado0 vivo dentro de uma célula anfitriã.) É perfeitamente compreensível querer mais do que algumas décadas de vida, ter esperança de que existe algo mais.<br />Porém, nosso foco deve ser no aqui e no agora, e não no além. O que importa é o que fazemos coma vida que temos, curta que seja.Após ela, o que persiste são as memórias naqueles que continuam vivos.<br /><hr noshade=""><span ><b>MARCELO GLEISER</b> é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro Criação Imperfeita</span><br /></span></div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-18155139335718099792011-04-23T10:03:00.000-07:002011-04-23T10:23:56.646-07:00"Whatever Works" ou tudo pode dar certo...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilneKsSO8X9IT0T3noWZv5MGwUNm2u7dsW3CiOGMfph3VWGlFXNFasCqmOhG1wjrMHn501ZuQ7HFQv5HaX6ELeGsu57kwMU1OU84UhtIx74bl_G7YRiKJj5MiOTiIhYxbzoI05QqaG7YmQ/s1600/1245108357_tudopodedarcertoposter01.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 216px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilneKsSO8X9IT0T3noWZv5MGwUNm2u7dsW3CiOGMfph3VWGlFXNFasCqmOhG1wjrMHn501ZuQ7HFQv5HaX6ELeGsu57kwMU1OU84UhtIx74bl_G7YRiKJj5MiOTiIhYxbzoI05QqaG7YmQ/s320/1245108357_tudopodedarcertoposter01.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5598830643724297506" /></a><br /><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div>Woody Allen é sempre Woody Allen... É sempre o máximo... Pelo menos eu gosto de todos os filmes dele. Tem um sabor novaiorquino e cosmopolita, sem pedantismo, pelo contrário, bastante explicativo em suas narrações. Talvez não seja um ótimo ator, apesar de que adoro rever o filme em que ele conversa com a mãe, uma velha judia, que está no céu, pedindo para ele não esquecer de levar o casaco, pois vai fazer frio. Ou então ele e a Diane Keaton em seus dramas amorosos de classe média, por exemplo. Neste feriado assisti ao filme "Whatever Works". O título em português é "Tudo pode dar certo". Ele escreveu e dirigiu o filme. Não atua. Adorei! Acho que ele está cada vez mais maduro intelectualmente e, talvez, tenha lido Sponville e sua "Felicidade desesperadamente", pelo menos foi o que senti ao ver o filme.</div><div>Não quero contar toda a história para não perder a graça para quem quiser assistir, mas não consigo esconder a vontade de escrever um pouco sobre o filme. Encarem como quiserem. Um resumo ou uma resenha, tanto faz, não me importo. Apenas quero escrever um pouco sobre o filme.</div><div>Um homem idoso, mas não tão idoso assim, que foi professor de Física e quase ganhou o Nobel na área conversa com amigos em um bar. Ele é manco, porque tentou suicídio durante o casamento. Há um flashback disso. Voltando para casa encontra uma garota bem jovem, talvez dezoito anos, linda, loira, do Sul dos Estados Unidos, educada em uma "tradicional" família sulista, racista e que vota no Partido Conservador e em George W. Bush ou, se quiserem, John McCain... Ela pede para ele dar abrigo a ela. Ele é um cara ranzinza, rabugento mesmo. Ela acaba morando com ele e se declara apaixonada pela genialidade dele. Aí é que eu acho que está a crítica. Que genialidade é essa? O cara viveu com a moça durante meses e nem percebeu que ela estava a fim dele, mesmo que por motivos de admiração, o que é uma babaquice por sua vez. Um casal muito improvável em qualquer situação real. Mas vivem juntos. De repente, o que acontece? A mãe dela chega. Foi abandonada pelo marido, pai da jovem, que foi viver com a sua melhor amiga. Ela é uma jeca, tradicionalista, reacionária etc, que não acredita no que vê. A filha, que foi educada para ser uma "boa esposa e mãe" casada com um idoso ranzinza... é cômico! Aí tem um desenrolar da história. Um momento hilário é quando o pai da moça chega e, com toda a hipocrisia do mundo, diz que foi tentado pelo diabo e perdeu a cabeça, mas que agora quer voltar para a esposa etc. Quando ele vê Boris, que é o nome do físico idoso, se ajoelha e começa a rezar... Bem, a partir daí o filme dá uma reviravolta impressionante. A mãe vira artista plástica de vanguarda e passa a viver com dois homens no mesmo apartamento. O pai assume a sua homossexualidade e passa a viver com outro homem, que o conheceu em um bar amargando a tristeza de estar abandonado. Ah! Um detalhe importante. O pai só voltou a procurar a mãe porque não conseguia mais ter ereção com a amante. Na verdade o que ele nunca teve foi desejo por mulher. Olha só a hipocrisia... A jovem conhece um ator (outra ironia), que é jovem também e bem apessoado, e passam a viver juntos, abandonando Boris. Durante uma lavagem das mãos, outra cena incrível do filme, porque ele canta "Happy Birthday" duas vezes para dar tempo para lavar bem as mãos, ele se joga da janela e tenta novamente o suicídio. Cai em cima de uma mulher que passava na calçada. Vai visitá-la no hospital e se apaixona. Mas veja, ela é vidente e sensitiva. O que um físico vai fazer vivendo com uma mística? Outra ironia. Mas a melhor ironia do filme, para mim, é a ironia sobre as imprevisibilidades da vida, sua falta de sentido e a necessária vontade que devemos ter de colher o dia, a cada dia, e levar ou buscar o amor em todas as nossas ações. O final do filme se passa no reveillon e Boris faz suas belas declarações finais. Enfim, tudo pode dar certo!</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-8276554817817745422010-11-29T06:41:00.000-08:002010-11-29T06:59:16.960-08:00O poder disciplinar e as favelas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVbL7PaZsbjjjKXn91WLgTm7ll7U4AmaHtSYJtmkvtHahGK46bRl4oZJWlyGXrSzQUrPF_MaukUQYqUNNDVjcx9uIsVQsUqNmC8ug-A898mk0xlWgCz69gf05qSYScHKQZhluyci2BC2nP/s1600/90720-favela-1.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVbL7PaZsbjjjKXn91WLgTm7ll7U4AmaHtSYJtmkvtHahGK46bRl4oZJWlyGXrSzQUrPF_MaukUQYqUNNDVjcx9uIsVQsUqNmC8ug-A898mk0xlWgCz69gf05qSYScHKQZhluyci2BC2nP/s320/90720-favela-1.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5544986300217778642" /></a><br /><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Durante toda a última semana a mídia veiculou diversas notícias sobre confrontos entre narcotraficantes e a polícia carioca, que resultou na destruição de mais de uma centena de veículos e a morte de algumas dezenas de pessoas, principalmente suspeitos de estarem vinculados ao tráfico de drogas. <div>A questão é antiga, pois confrontos dessa natureza existem há pelo menos quarenta anos no Rio de Janeiro, quando o narcotráfico se estabeleceu nas favelas nos morros do Rio. Porém, o problema social é mais antigo ainda. </div><div>O Estado brasileiro, que sempre serviu às elites sociais e econômicas, manteve em constante estado de precariedade no que diz respeito aos serviços públicos as comunidades de favelados, não somente no Rio, mas em diversas outras regiões do Brasil, permitindo uma situação de indigência de moradia, transporte, saneamento, saúde, educação entre outras coisas. Pode-se dizer que a questão da favela acompanha a história da República brasileira desde sua proclamação em 15 de novembro de 1889.</div><div>São centenas de milhares de brasileiros, geralmente negros e pardos, a quem é negada a cidadania. A grande maioria procura trabalho e, quando encontra, é de péssima qualidade e baixa remuneração. As comunidades estão organizadas como uma teia de compromissos morais de assistência mútua, que procura substituir a ausência do Estado.</div><div>É nesse local que o narcotráfico se organizou, porque os morros estão alienados do poder policial, do Estado e, ao mesmo tempo, apresentam condições topográficas e urbanísticas que facilitam ações de defesa e vigilância.</div><div>Os moradores dessas favelas foram obrigados a conviver com criminosos que partilham com eles o mesmo espaço e o Estado não se preocupou em criar condições de vida que permitam aos jovens que nasceram nas favelas melhorarem suas condições sociais. Acabaram, alguns dentre eles, sendo aliciados pelo tráfico.</div><div>Quando o Estado, por meio da polícia, sobe o morro, é para matar e não para estabelecer políticas de prevenção à marginalidade criminosa. E isso foi visto esta semana pela mídia e, ao invés de ser denunciado o Estado como o grande ausente nesse processo, o que configurou a formação de guetos, foi glamourizado pelos jornalistas como capaz de dominar o crime.</div><div>Michel Foucault, filósofo francês morte em 1984, diria que o poder está disseminado em todos os ambientes sociais, e isso não deixa de lado a favela. Os moradores estão à mercê dos narcotraficantes e dos policiais, quando um ou outro controlam o espaço geográfico local. Porém, a favela não está integrada ao espaço urbano carioca, porque é vista pela elite política e social da cidade de do país, como constituída por pessoas desqualificadas que preferem o narcotráfico à ordem pública e social do Estado. Essa mentira foi desmascarada nas inúmeras declarações de moradores sobre o bem da ação policial, apesar da morte de inocentes na repressão.</div><div>Agora, com as UPPs sendo instaladas nos morros, por causa da copa e das olimpíadas, a favela passará a ser controlada por um novo poder, o poder disciplinar. Agora, as casas terão números, os carteiros levarão até os novos cidadãos as contas de água e de luz e as instituições sociais iniciarão um processo de inclusão social dos moradores no grande sistema anunciado por Foucault como o do poder disciplinar.</div><div>O Estado que não controlava ninguém, agora irá controlar tudo. Não se trata de uma questão de julgar que tipo de controle é mais vantajoso, o do narcotráfico ou da polícia, mas de constatar que o poder está definitivamente instalado em todos os meandros sociais do país, inclusive nas favelas, corrompendo as liberdades e restringindo a cidadania a ações pontuais marcadas pela despolitização.<br /><div><br /></div></div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-83552890394536392392010-11-05T09:49:00.000-07:002010-11-05T10:19:10.457-07:00A vitória do Lula, da Dilma e do PT nas eleições de 2010...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyqcBS3vgZUGD6-J49mcy1zJDd0mvS4O_ouXYHqx3FgmzMgkzkOFsn3TMj2sJv2YXZSU-QLrIzysRUyB9FXbU5ZcqxyCDljBkgGGa0hRmhw52bhELqAvdYwcKwdAZQ_ixuGAo6QeZvAZXN/s1600/lula+e+dilma.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 260px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyqcBS3vgZUGD6-J49mcy1zJDd0mvS4O_ouXYHqx3FgmzMgkzkOFsn3TMj2sJv2YXZSU-QLrIzysRUyB9FXbU5ZcqxyCDljBkgGGa0hRmhw52bhELqAvdYwcKwdAZQ_ixuGAo6QeZvAZXN/s320/lula+e+dilma.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5536116260452424834" /></a><br /><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>No dia 31 de Outubro passado, os eleitores brasileiros, com uma margem de aproximadamente 12 milhões de votos, determinaram a vitória da Dilma Roussef, candidata do PT para a presidência da república. A partir de um importante artigo escrito pelo professor de Ciência Política André Singer, publicado na revista Novos Estudos de Dezembro de 2009, pretendo explicar as razões do sucesso que, acredito, seja de extrema importância para o futuro da sociedade brasileira, especialmente para os mais pobres.<div>A questão deve ser iniciada pela trajetória do PT ao longo de duas décadas a partir de sua formação, em 1980. O discurso do PT até a eleição de 2002 era um discurso pretensamente "revolucionário", que apostava no risco de subverter a ordem institucional e econômica como meio indispensável para a construção da justiça social. Desta forma, pode-se observar que nas campanhas eleitorais majoritárias o partido teve sucessivas derrotas. Isso se deveu ao fato de que o principal reduto eleitoral petista encontrava-se no proletariado que se aproximava da classe média, como os operários do ABC paulista, que além de possuírem um nível de renda superior ao proletariado tradicional brasileiro, assim como professores e funcionários públicos em geral, também possuíam carteira de trabalho com registro da empresa, o que dava a esse público um caráter social de formalidade e, desta forma, maior acesso ao crédito, por exemplo.</div><div>A grande massa do eleitorado brasileiro, que segundo Singer pode ser denominada de "subproletariado", que recebe per capita por família menos de dois salários mínimos e que trabalha na informalidade, e que constitui quase 50% do eleitorado nacional, não votava no PT. O discurso "revolucionário" do partido contrariava a ideologia predominante nesse setor que procura dar maior importância a "ordem" estabelecida, que Singer designa como "conservadorismo", como requisito básico para mudanças sociais e econômicas. Esse descompasso entre o ideário do PT e do "subproletariado" gerou uma contradição no discurso da "esquerda" brasileira no período de 1980 a 2002, qual seja, a de que esse segmento majoritário da sociedade não estava disposto a deixar de lado seu conteúdo "conservador" para apostar em um partido que julgava ser necessário subverter a "ordem" burguesa e política-institucional do país para a realização de uma possível justiça social.</div><div>Isso pode ser verificado, no dizer de Bresser Pereira, que participou como debatedor da exposição do André Singer no Instituto de Estudos Avançados da USP no final de 2009, com a relação que ele estabelece entre a criação do plano real pelo Fernando Henrique Cardoso em 1994 e a posterior eleição e reeleição do eminente sociólogo para a presidência da república em 1994 e 1998. O "subproletariado" votou em FHC e não votou no Lula porque FHC e a coligação partidária estabelecida pelo PSDB na época garantiu o fim da inflação alta que o país vivia desde o início da década de 1980 e, desta forma, garantiu a "ordem", pois todos nós sabemos o desastre que é para a vida cotidiana de um trabalhador assalariado, mesmo ou principalmente de maneira informal, a desvalorização da moeda e a carestia de vida.</div><div>O PT, na campanha de 2002, mudou o discurso, justamente no sentido de conseguir o apoio dos eleitores de baixa renda. Foi por essa razão que o Lula apostou na afirmação constante de que não iria modificar o plano real, mesmo que isso significasse uma sobrevalorização da moeda nacional e produzisse dificuldades no setor exportador da economia e, ao mesmo tempo, atacou de maneira incisiva a questão dos investimentos sociais, para a geração de uma distribuição de renda que melhorasse significativamente a situação de vida de milhões de brasileiros.</div><div>É nesse cenário que Lula vence tanto em 2002 como em 2006 e, durante seus dois governos, ele simplesmente multiplicou por 13 os investimentos na área social se comparados aos realizados durante os dois governos de FHC, além de ter ampliado o emprego formal, com carteira assinada, para 15 milhões de brasileiros, ter retirado da situação de pobreza 20 milhões que adentraram à classe média, ter ampliado grandemente o crédito, especialmente o consignado com juros muito baixos, o que facilitou a ampliação do consumo, ter concedido o "bolsa família" para milhões de pobres e miseráveis que passaram a ter o direito de se alimentar com dignidade e, para não me estender muito, ter criado o PROUNI que permite a existência hoje de 700 mil jovens nas universidades privadas com bolsa do governo federal.</div><div>Desta forma, com a garantia da manutenção da "ordem" e com os investimentos sociais, Lula e o PT conseguiram aquilo que José Álvaro Moisés, cientista política da USP, afirmou ser o paradigma da "confiabilidade institucional" que o "subproletariado" passou a ter no Estado brasileiro governado pelos petistas.</div><div>Na medida em que esse processo se consolida em 2010 com um índice de aprovação de quase 80% do presidente Lula pela sociedade brasileira, a candidata Dilma procurou fazer uma discurso, durante a campanha eleitoral, que garantisse não somente a confiança do eleitor, especialmente de origem mais pobre na manutenção da "ordem conservadora", isto é, não tocar de forma alguma nos valores burgueses e tradicionalistas, inclusive religiosos, que fundamentam a ideologia de grande parcela da população brasileira, como também de garantir a continuidade do processo de distribuição de renda, que é uma ampliação do que o governo Lula está realizando e realizará até o final do mandato do presidente em 31 de Dezembro de 2010.</div><div>Enfim, creio que seja importante essa análise para que o leitor compreenda como se processa a política no plano da ética pública, deixando de lado avaliações infantis dos candidatos a partir do que aparece na publicidade divulgada pelos meios de comunicação e, principalmente, no que diz respeito a julgamentos apressados baseados em relações de simpatias ou antipatias sobre esse ou aquele candidato ou partido.</div><div>Só para terminar com a citação de um clássico, Maquiavel, logo no início do livro "O príncipe", escreve que não se propôs a desenvolver seu projeto em homenagem ao governante de Florença, na Itália, Lourenço de Médicis, com base no que a Filosofia tinha dito até aquele momento sobre a política, qual seja, de que é o campo do vir-a-ser, do idealizado, como queria Aristóteles em seu livro "A política", mas que ele tinha como objetivo dizer o que é a política, observando da maneira mais objetiva possível o campo da realidade, isto é, a questão do poder. Porém, o poder, que é uma força e que fundamenta o campo da política, pode ser utilizado para melhorar ou não melhorar as condições de vida de um povo, mesmo assumindo sua fragilidade diante de um poder contrário, que é aquele possuído e exercido pelas classes dominantes.</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-12569609793218611632010-10-02T07:14:00.000-07:002010-10-02T08:35:24.935-07:00A atual crise da democracia no Brasil...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU__ww2mXtOtp4nn2Rq0FLm2h6M0-OGnOwZy-83Mvj5c5A8H-lXz5jeifAsWxN3_2D1n_ACgQIAdLq-8Z36bXDkLgCFj0bwBofiOc0xpfZqOzRevc0KQ_POeAKbVInwjHGa2N_fKj4WObz/s1600/220px-Bandeiras06052007.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 211px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5523452321204421298" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU__ww2mXtOtp4nn2Rq0FLm2h6M0-OGnOwZy-83Mvj5c5A8H-lXz5jeifAsWxN3_2D1n_ACgQIAdLq-8Z36bXDkLgCFj0bwBofiOc0xpfZqOzRevc0KQ_POeAKbVInwjHGa2N_fKj4WObz/s320/220px-Bandeiras06052007.jpg" /></a><br /><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div>Amanhã, dia 3 de Outubro, milhões de brasileiros irão votar para deputado estadual, deputado federal, senadores, governador de estado e presidente da república. Aparentemente, a eleição de amanhã é algo já incorporado pela população brasileira, algo que os ingênuos podem até considerar "natural". Porém, o processo eleitoral democrático no Brasil está ameaçado. Sempre esteve ameaçado. É só ler um pouco da história do Brasil, em especial, o período republicano que inicia em 15 de Novembro de 1889, que o incauto irá verificar que a "normalidade" não é a democracia, mas regimes de exceção. O período da "república da espada", de 1889 a 1894, foi uma ditadura militar. De 1894 a 1930 tivemos a "república das oligarquias", onde uma porcentagem mínima de homens brasileiros podiam votar, sob o cabresto dos "coronéis" latifundiários, especialmente do café, marginalizou as mulheres, os analfabetos, os pobres e tantos outros segmentos da sociedade brasileira do processo eleitoral. Depois Getúlio Vargas, oligarca gaúcho, toma o poder com a Revolução de 1930 e, durante 15 anos, governa de maneira personalista a nação. De 1946 a 1964, o período do nacional-desenvolvimentismo, possui uma constituição pretensamente democrática, mas repleto de crises, como o suicídio de Getúlio em 1954, a crise antes da posse de Juscelino em 1954 e 1955, a renúncia de Janio em 1961 e a oposição do Congresso à posse de Jango também em 1961, com a aprovação da emenda parlamentar e, finalmente, o Golpe Militar de 1964. De 1964 a 1985 a ditadura militar, a serviço da burguesia e dos latifundiários reacionários e do capital externo, prendeu, torturou e matou milhares de brasileiros, além de deixar uma herança econômica, social e educacional de exclusão. A "nova república", com Sarney, de 1985 a 1989, fez parte da "transição" da ditadura para a democracia com exclusão social e controle político, e Sarney, que tinha sido presidente do PDS, antiga ARENA, partido que apoiou o regime militar, agora é o presidente da república. Em 1988, a atual Constituição federal é aprovada e nomeada, com justiça, por Ulisses Guimarães de "constituição cidadã", cria uma estrutura jurídica e institucional verdadeiramente democrática para o país, mas o processo eleitoral de 1989 marginaliza a opção transformadora, caracterizada pelo Partido dos Trabalhadores e pelo candidato Lula e coloca no poder, com uma massiva ajuda midiática, o "playboy" das Alagoas Collor de Mello. Não preciso aqui fazer um histórico de acontecimentos trágicos de memória recente. Passando pelo inespressivo, mas eficiente governante conservador Itamar Franco, tem-se a eleição de FHC que, representando uma burguesia considerada "ilustrada", mas com fortes cores reacionárias, estabilizou a moeda e privatizou o patrimônio das empresas estatais, oferecendo uma estrutura jurídica, econômica e institucional favorável à implantação do neoliberalismo no Brasil. Em 2002, durante o processo eleitoral, o candato Lula mudou seu discurso e foi acusado de "traição" dos ideiais de seu partido, o PT. Porém, ninguém percebeu que se Lula não deixasse claro que iria manter a estabilidade da moeda, as instituições políticas e jurídicas garantidoras da ordem burguesa e, em especial, não tocar na propriedade privada e nos contratos civis, a classe dominante não teria deixado ele ser eleito presidente da república. Para que o PT governasse o Brasil tinha que aceitar ser refém da burguesia nacional e estrangeira. Porém, seu governo que se encerra no dia 31 de Dezembro de 2010, fez muito pela sociedade brasileira, especialmente os pobres. Alguns dados relevantes devem ser descritos: colocou 20 milhões de brasileiros na classe média, criou o PROUNI, melhorou substancialmente o SUS, ampliou as vagas nas escolas técnicas e nas universidades federais, inclusive criando um INFET em São João da Boa Vista, que muitos atribuem ao PSDB, administrou magistralmente o país durante a crise do capitalismo que começou nos Estados Unidos há três anos atrás e que ainda está fazendo grande estrago por lá e pela Europa, entre outras realizações. Então, quero dizer que o governo do PT tem conseguido realizar progressos em políticas públicas para os pobres brasileiros que nenhum governo anterior realizou, mas isso tem um preço, que é manter intocável os princípios burgueses capitalistas de inviolabilidade da propriedade privada e garantia do cumprimento dos contratos.</div><br /><div>Passo agora a avaliar a atual crise da democracia no Brasil. A candidatura da Dilma significa a continuação da política de inclusão social efetivada pelo presidente Lula e não preciso gastar as teclas do meu PC para falar sobre isso, basta vcs lerem o artigo de Leonardo Boff sobre o fato, ele que foi um severo crítico do governo Lula desde 2003. Porém, a grande imprensa iniciou uma campanha difamatória e mentirosa sobre a Dilma, anunciando "escândalos" artificiais e maliciosos quando do início da campanha eleitoral, com o intuito de denegrir a imagem da candidata e beneficiar a candidatura do representante oficial da burguesia brasileira e internacional que é o Serra do PSDB. Como tal campanha não deu o resultado esperado, passou-se a construir um complô, com o apoio que não sei se foi ingênuo ou malicioso do candidato inespressivo do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio. Aliás, é bom que se diga que o PSOL foi formado por ex-integrantes do PT que, tresloucados e é por isso que o presidente Lula não os colocou no governo, sairam do PT e fundaram o demagógico partido PSOL, que pode dizer as asneiras que quiser porque não ameaça o poder burguês no Brasil. A ameaça de golpe de Estado está no ar ainda. Não se esqueçam que a tradição política brasileira é de golpes e não de estabilidade democrática. Os opositores da candidatura Dilma passaram a divulgar informações manipuladas e muitas vezes falsas sobre o passado da candidata. Ela fez parte da luta armada contra a ditadura militar, porque o país vivia uma guerra civil instaurada pela burguesia e pelos militares, e foi presa por três anos, sofrendo todo tipo de violência. Alguns ignorantes chegaram a dizer que a sua eleição significaria a implantação de uma "ditadura" no Brasil, se esquecendo que ela pegou em armas para lutar contra a verdadeira ditadura estabelecida pelos militares e pela burguesia, com o apoio da classe média da época, em 1964. Fatos mais recentes deixam claro o clima de instabilidade política reinante e que favorece uma conspiração golpista, tão tradicional nos países latino-americanos. Um fato que merece ser citado é a lei da "ficha limpa", iniciativa de uma proposta popular que deveria ter sido aprovada pelo Congresso no ano passado para que a Constituição fosse respeitada, pois a lei aprovada no ano só entra em vigor no ano seguinte. Mas os congressistas que têm o "rabo preso" protelaram a aprovação da lei e isso criou um impasse no Supremo Tribunal Federal que durante a votação da ação do governador Roriz, mais que sabido larápio do Distrito Federal, teve um empate. O curioso é que os 5 ministros que votaram pela implantação imediata da lei foram nomeados pelo presidente Lula e, desta forma, confirmaram não somente a vontade do PT em garantir que "bandidos" não sejam eleitos como também concordaram com a vontade da totalidade da opinião pública brasileira. Os 5 ministros que votaram contra foram nomeados pelo Collor e pelo FHC. Não preciso dizer mais nada. Argumentos jurídicos foram oferecidos, especialmente formais e processuais, para a não aprovação da "ficha limpa". Felizmente o Tribunal Superior Eleitoral manteve a lei, mas o clima de instabilidade continua, pois ao STF cabe, após a nomeação do décimo primeiro ministro que ainda não ocorreu, realizar uma nova votação e corre-se o risco de candidatos impugnados na eleição de amanhã tenham validados os votos daqui a semanas. Uma outra questão diz respeito à necessidade da Dilma em se reunir com católicos e evangélicos e garantir não somente a liberdade de religião como também a intocabilidade em questões como o aborto e o "casamento" gay. Do contrário, ela seria taxada nos púlpitos como "herege" e "atéia". A questão da ação impetrada pelo PT no STF sobre a obrigatoriedade da apresentação do título de eleitor e de um documento oficial com fotografia também revela o momento instável. Depois de sete ministros do STF terem votado a favor do fim da obrigatoriedade da apresentação do título eleitoral, porque isso foi manobra do PSDB e do DEM para impedir a votação de milhares de pobres no Norte e Nordeste, que não possuem uma organização da documentação pessoal como a classe média do Sudeste possui, o ministro Gilmar Mendes, uma excrecência do Judiciário nacional, pediu vistas. Para que? Será que a proposta não é suficientemente clara? Os eleitores já estão cadastrados no TSE e o título é um documento desnecessário, que só irá impedir a votação de outros eleitores. Mas ninguém, ou quase ninguém, ficou sabendo do telefonema do Serra ao Gilmar na quinta, em que ele inicia a ligação falando: "Meu presidente...". Isso foi testemunhado por um jornalista da Folha de São Paulo, que não compactua com a campanha do jornal contra a Dilma. Então o Gilmar trancou o processo por mais 24 horas e deixou apenas a sexta e o sábado para orientar o eleitor pobre e simplório sobre o novo fato, o que é pouco tempo. Se isso não é contribuir para a instabilidade institucional, além de ser uma ingerência do Judiciário no processo eleitoral, não sei mais o que dizer. Mas chego a questão principal e final de meu texto. Na quinta passada ocorreu o último e mais importante debate dos presidenciáveis na TV Globo, que é a televisão que mais tem audiência no país. O Serra manteve seu discurso tecnicista e conservador. A Marina continuou com seu desvio ideológico em favor de um suposto "desenvolvimento sustentável". Mas o Plínio fez duas perguntas para a Dilma que são emblemáticas. Na primeira perguntou se ela faria o aluguel compulsório dos imóveis desocupados no Brasil. Ele queria testá-la sobre a questão do respeito ao direito de propriedade. Ela respondeu magistralmente. Disse que no governo dela os contratos seriam respeitados, o que significa dizer que a burguesia não precisa se preocupar com seu direito à propriedade, para evitar com isso um Golpe de Estado, e que preferia que os trabalhadores brasileiros tivessem moradia própria do que alugada. A segunda pergunta do falacioso Plínio, demagogo de plantão da esquerda festiva, foi se a Dilma toparia (ele adora usar a linguagem do Justus do SBT para parecer "povão", ele que é o candidato com maior patrimônio econômico) deixar de pagar a dívida pública. Que imbecil! Se a Dilma titubeasse na resposta, na sexta feira os 20 bilhões de dólares que entraram no país em função da oferta de ações da Petrobrás seriam imediatamente repatriados e isso produziria a quebra da Bovespa e a insolvência do país, além de retaliações financeiras e comerciais de todos os países do mundo. Seria um novo "crack" da Bolsa de Valores e o Brasil faliria. Dilma, com uma "santa" paciência, reafirmou que no governo dela os contratos serão respeitados, ou seja, a própria Constituição e, é claro, o interesse da burguesia nacional e estrangeira, porque do contrário ou não haveria eleição dia 3 de Outubro ou não haveria posse no dia 1o. de Janeiro de 2011.</div><br /><div>Em síntese, quero dizer que votar em Dilma para presidente significa reconhecer que a revolução burguesa no Brasil ocorreu conforme Florestan Fernandes analisou em seu brilhante ensaio publicado nos anos de 1970, e que o Estado brasileiro é refém dessa mesma burguesia. Não existe no horizonte histórico qualquer possibilidade de implantação de um socialismo democrático no Brasil, não porque faltem protagonistas dispostos a isso, e o Lula e a Dilma querem isso para o país se tornar mais justo e democrático, mas porque a elite nacional impediria uma ação política nessa direção. Como existem provas históricas mais do que consistentes de medidas de exceção na vida política brasileira, só resta ao PT realizar seu projeto de melhoria substancial da qualidade de vida da sociedade brasileira, o que já demonstrou o presidente Lula e que irá ter continuidade com Dilma, sem entretanto se questionar o direito à propriedade privada e a manutenção dos contratos civis. Dentro da legalidade da ordem burguesa é possível realizar grandes transformações em benefício das classes pobres brasileiras, coisa que o Serra jamais realizaria e, se o leitor tiver alguma dúvida, é só analisar com seriedade os 16 anos do governo do PSDB no estado de São Paulo.</div><br /><div>Nesse momento, repito a frase do presidente Lula em 2002: nós não podemos ter medo da felicidade, mas temos que saber, conforme o já citado Sponville, que o que temos é a felicidade possível e a verdade dolorosa da dominação de classe no nosso país... </div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-32688758173259935162010-09-01T08:52:00.000-07:002010-09-01T09:39:02.910-07:00Educação e luta de classes...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ10aI1lcv_AftZniscwN83cy3h1IzoPiZWE0UhFoY-QwsyAyNbtKp0Q39R_vcQ3okeRzImOagz52n2HvjxvFU1LfllH_q8eGQtY-XZqxGTMPySRq4gMT8AYEeYh0ArYFeOxma5eQ0R8lD/s1600/200px-Demerval_saviani.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 232px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5511973951855453282" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ10aI1lcv_AftZniscwN83cy3h1IzoPiZWE0UhFoY-QwsyAyNbtKp0Q39R_vcQ3okeRzImOagz52n2HvjxvFU1LfllH_q8eGQtY-XZqxGTMPySRq4gMT8AYEeYh0ArYFeOxma5eQ0R8lD/s320/200px-Demerval_saviani.jpg" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Em recente conferência proferida na Unicamp, na Faculdade de Educação, na abertura oficial do grupo de estudos sobre Gramsci e a educação, Demerval Saviani falou longamente sobre o pensamento gramsciano na educação e a necessária manutenção da metodologia ortodoxa em relação ao marxismo. Autor de livros fundamentais como "Escola e democracia" e "História das idéias pedagógicas no Brasil", que ganhou o prêmio Jabuti em 2008, Saviani aposta na pedagogia histórico-crítica e na sala de aula um importante baluarte para a luta de classes. Não nega outros espaços sociais para a luta de classes como os sindicatos, os partidos políticos entre outros, mas é muito preciso em sua avaliação, a partir do olhar de Gramsci, a respeito do conceito de sociedade civil. Para o leitor que não sabe quem foi Antonio Gramsci faço a concessão de contextualizar esse importante intelectual italiano do início do século XX que morreu em uma prisão do regime fascista de Benito Mussolini. Foi autor de obras valorosas como "Concepção dialética da história", "Maquiavel, a política e o Estado moderno" e "Cadernos do cárcere". Gramsci foi um intelectual marxista que valorizava muito a leitura que Marx fez no século XIX sobre o modo de produção capitalista. Porém, Gramsci não era ingênuo com relação aos meios e às instituições que o capitalismo constrói historicamente para derrotar os movimentos populares. Nesse sentido, Gramsci entende que no modo de produção capitalista é possível a construção histórica de diversos modelos de formações sociais que, de maneira aparente, encobrem a lógica exploratória do sistema capitalista, que se manifesta na luta de classes. Com o conceito de "hegemonia" burguesa, o italiano percebe como que no plano da cultura a burguesia contamina a classe trabalhadora com seus valores e princípios morais e, desta forma, os trabalhadores introjetam o pensamento burguês sobre o mundo e reproduzem suas nefastas condições de vida e de trabalho sem a necessária conscientização política voltada para a transformação social. Saviani é ortodoxo porque não recusa a abordagem original de Marx e Engels, porque a considera fundamental para o entendimento da história. Porém, como grande leitor de Gramsci, reconhece as múltiplas faces do capitalismo nas modalidades de formações sociais que podem confundir não somente os movimentos populares, como também os próprios intelectuais, que passam a criar, segundo ele, de maneira insólita, teorias mistas e incompetentes de verificação da realidade histórica. No caso da educação, Saviani faz uma crítica severa à educação tradicional, escolanovista e tecnicista, mas também à abordagem crítico-reprodutivista. Irei explicar melhor o que ele entende por essas diferentes pedagogias. A educação tradicional é baseada na erudição e memorização de conteúdos referentes à classe dominante, formadora do "bacharelismo" que dominou a vida cultural brasileira durante todo o século XIX e boa parte do século XX. A escola tradicional pressupõe o professor como portador do conhecimento e o aluno (do latim "alumini", aquele que não possui luz própria) como um receptáculo vazio que precisa aprender o que o professor tem a ensinar a partir de uma metodologia autoritária. A pedagogia escolanovista, que no Brasil ganha força a partir do Manifesto de 1932, parte do princípio de que o professor deve deixar o aluno livre para a construção do conhecimento, tendo a liberdade e a autonomia como princípios fundamentais dentro da sala de aula e, ao mesmo tempo, reconhece a necessidade da existência de um conhecimento anterior, inerente ao aluno, para que o mesmo se empenhe naquilo que é denominado de educação pesquisadora. A pedagogia tecnicista pressupõe o ensino de habilidades e competências profissionais, o ensinar a fazer algo prático, sem a necessidade de conteúdos reflexivos, para que o aluno formado ingresse no mercado de trabalho. De maneira geral, a crítica de Saviani, com a qual eu concordo, é a seguinte. A pedagogia tradicional não permite ao aluno o acesso ao pensamento crítico mas, no entanto, como uma pedagogia conteudista, oferece ao aluno conhecimentos de origem burguesa ou não fundamentais para como instrumental para a reflexão crítica da história. Então, Saviani defende que a escola pública deve ser um espaço onde a criança e o jovem, no ensino fundamental e médio, devem receber a maior quantidade de conhecimento conteudista possível para que esse saber se torne um instrumento de inserção do trabalhador no universo cultural e educacional da burguesia pois, do contrário, o trabalhador sempre ficará marginalizado. Mas essa pedagogia deve se tornar histórico-crítica no sentido de sempre visualizar a necessária transformação da sociedade capitalista em uma sociedade igualitária e justa. A pedagogia escolanovista é conservadora, segundo Saviani, pois trabalha não a essência, mas a existência, no dizer do educador e, desta forma, funciona muito bem nas escolas que recebem crianças e jovens oriundos da burguesia, pois eles já tiveram contato com conteúdos culturais e educacionais que os possibilitam o ato de criação, autonomia e liberdade. Para as crianças e os jovens que vieram do proletariado tal pedagogia é um desastre, pois diante da precariedade da estrutura física, administrativa e pedagógica da escola pública, o resultado da aplicação do escolanovismo nesse espaço é o acirramento da indisciplina e da desmotivação. Para ele sem disciplina e motivação não há aprendizagem. Em relação a escola tecnicista, que pode ser observada pelo leitor a partir das atuais escolas profissionalizantes (FATEC, CEFET, INFET, SENAI entre outras) o objetivo passa pela razão meramente instrumental, com a formação de mão-de-obra qualificada para o mercado de trabalho capitalista que irá gerar uma quantidade de mais-valia maior que será apropriada pela burguesia, além de se constituir em uma "casta" profissional "transformista", conforme o próprio Gramsci aponta e Saviani reforça, ou seja, trabalhadores assalariados que não irão questionar os sistema capitalista e suas diversas formações sociais e irão se portar como "feitores" em relação aos trabalhadores assalariados subalternos em troca de um salário muito pouco diferenciado. A principal motivação da pedagogia tecnicista passa pela ideia de estratificação social de Max Weber, que leva em consideração não somente a riqueza (expressa em um salário maior), mas também o prestígio e o poder (em relação ao proletariado que continua sendo explorado). Portanto, Saviani reconhece que esses três modelos pedagógicos são reprodutores do sistema capitalista. O quarto modelo, denominado por ele de crítico-reprodutivista é inspirado, principalmente, em Althusser, intelectual marxista francês da década de 1960, que criou o conceito de aparelhos ideológicos do Estado. A escola, assim como a família, a igreja, o clube ou qualquer outra instituição social presente na sociedade capitalista, tem a função de reproduzir o modelo social burguês e manter o proletariado em estado de apatia, passividade e dominação. Desta forma, Althusser afirma que a escola vem desempenhando formidavelmente o seu papel, que é o de alienar o trabalhador. Saviani denomina essa pedagogia de crítica porque Althusser reconhece o papel de alienação do proletariado, mas afirma que é reprodutivista porque com seu pessimismo, não reconhece no interior da escola um espaço eficiente para a luta de classes. Enfim, Saviani entende que devemos apostar em uma escola histórico-crítica, com uma excelente base de conteúdo no ensino fundamental e médio (filosofia, sociologia, história, geografia, matemática, línguas, física, química, biologia, artes etc), para que o estudante originado do proletariado possa compartilhar do mesmo conhecimento que a burguesia possui e, ao mesmo tempo, essa escola demanda um docente e uma estrutura escolar que aposte em uma prática cotidiana de conscientização do proletariado para uma transformação da sociedade capitalista. É nesse momento que discordo de Saviani, essencialmente, pois considero que o sistema capitalista possui a capacidade de mutação histórica, criando novas formações sociais, impossibilitando a sua transformação. Quero dizer com isso que o máximo que poderemos obter por meio da pedagogia histórico-crítica é a conscientização do proletariado de que ele é explorado no sistema capitalista e, ao mesmo tempo, a consciência também de que esse sistema possui barreiras intransponíveis que impedem a sua transformação. Como exemplo, cito a fala de Saviani sobre o atual presidente da República. Ele considera o presidente Lula um "transformista", assim como a maioria dos militantes do Partido dos Trabalhadores. Porém, Saviani não leva em consideração que qualquer ação revolucionária por parte do presidente ou dos militantes do PT significa uma repressão violenta por parte da burguesia por meio dos aparelhos ideológicos do Estado. Quero dizer que se o presidente Lula, quando eleito pela primeira vez em 2002, não tomaria posse em 2003, se mantivesse seu discurso político e ideológico como era em 1989. Creio até que fosse assassinado ou simplesmente ocorresse um golpe político dado por civis e/ou militares como ocorreu em 1964. Então, o espaço público para a realização de reformas sociais em benefício dos trabalhadores demanda um enorme esforço de negociação com os representantes da burguesia no Congresso Nacional, nos estados federativos e até mesmo nos municípios, além de alianças desagradáveis com partidos políticos desqualificados, mas que são importantes no processo "democrático-burguês" de votação de projetos de lei no Congresso Nacional, isso para não falar na relação complexa com os meios de comunicação de massa, controlados por burgueses com interesses econômicos e ideológicos muito bem explícitos. Enfim, creio que a sala de aula seja um espaço importante para a luta de classes e que o professor deve se preocupar com uma educação de qualidade, que leve em consideração conteúdos científicos e críticos. Porém, o que redundará daí é um coletivo de trabalhadores conscientes de sua situação no sistema capitalista, que poderão votar em candidatos que representem os movimentos populares, mas sabendo que a revolução não está no horizonte nem mesmo distante, porque a burguesia possui mecanismos de obstaculizar radicalismos que coloquem os seus interesses em perigo. O que os trabalhadores poderão fazer, se tal pedagogia efetivamente for implantada em todas as escolas públicas brasileiras, e isso é uma utopia, diga-se de passagem, é reduzir o índice de exploração que sofrem e obter, por meio de suas lutas sociais dentro e fora da sala de aula, benefícios que melhorem um pouco suas condições de vida mas que de maneira nenhuma mudarão o sistema capitalista e a desigualdade social existente em nosso país. Então, recorro novamente ao Sponville e ao seu conceito de "felicidade possível"...<br />Dedico esse texto a minha grande amiga Sônia Siquelli (beijos para vc...).Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-18530796498119175442010-08-15T10:42:00.001-07:002010-08-15T11:08:11.952-07:00Sobre as eleições...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFRWQJ8Guz6Ea10rEKHD1OI8I0eb775-KswJfBUgo8AZqs16VpGdSpzTdHtXsGTgzNPM3jVoCGh30qPpAneEddGjY9h3JyY9dGvfN1EHPTYqg4TVG1tCHitrTokd_vPRCTmutodnf4A_4w/s1600/250px-Palacio_do_Planalto.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 250px; FLOAT: left; HEIGHT: 164px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5505699696351460130" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFRWQJ8Guz6Ea10rEKHD1OI8I0eb775-KswJfBUgo8AZqs16VpGdSpzTdHtXsGTgzNPM3jVoCGh30qPpAneEddGjY9h3JyY9dGvfN1EHPTYqg4TVG1tCHitrTokd_vPRCTmutodnf4A_4w/s320/250px-Palacio_do_Planalto.jpg" /></a><br /><div></div><br /><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div>O processo eleitoral está correndo à todo vapor. Na verdade, em política e, no caso, em um Estado Democrático de Direito, o processo eleitoral nunca termina. Não é porque o político X ganhou a eleição para o cargo Y que ele não continua tratando do processo eleitoral, seja para se reeleger ou para eleger alguém que preza ou de sua confiança ou então que seja capaz de manter seus ideais sobre administração pública. Porém, a sociedade como um todo não pensa nisso. Deixa-se, fragilmente, manipular pelos meios de comunicação de massa e somente pensa sobre as eleições na véspera. Maquiavel, há quase quinhentos anos, afirmou que o principal objetivo da política é tomar o poder e se conservar nele. Maquiavel era um republicano, ao contrário do que dizem seus simplórios analistas, ao afirmarem ser um defensor do absolutismo monárquico. Seu interesse, em especial no livro mais conhecido "O Príncipe" era o de dissecar a política em seus caracteres realistas, sem o devir aristotélico ou o idealismo platônico. Aliás, ele deixa isso explícito logo no início do livro. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, um dos mais importantes sociólogos brasileiros vivo, em palestra realizada em São Paulo na semana que passou, afirmou, a partir da leitura de Maquiavel, que o homem público em uma sociedade de massas não pode sempre ser fiel à verdade. Isto não quer dizer que deva ser mentiroso, mas que deve pensar antes de afirmar qualquer coisa e que deve omitir informações quando isso for do interesse mais geral, do interesse público. Lembro-me de um debate entre a Marilena Chauí e José Artur Gianotti sobre a flexibilidade espacial entre o moral e o imoral em política. Ela afirmava que não há uma espaço amoral, ou seja, que a linha divisória entre o moral e o imoral em política é tênue. Ele afirmava que entre a moral e o imoral há um espaço amoral que é dinâmico e flexível, dependendo das circunstâncias. Fico com o Gianotti, encarando a política como o espaço e a ação do possível. Nesse sentido, analisando a candidatura da Dilma e do Serra, respectivamente, PT e PSDB, percebo que há pontos divergentes e convergentes entre ambos. O principal ponto de convergência está na consciência do problema social em nosso país, em especial a questão da desigualdade entre ricos e pobres. Não interessa agora discutir os métodos e práticas propostos por ambos para atacar o problema, pois isso é contingencial. O principal ponto de divergência está na concepção do Estado brasileiro, que envolve uma concepção da história social do Brasil. Serra vê o Brasil de maneira linear, a partir de sua percepção da própria história de sua família. O mais importante, pensa ele, é permitir a livre circulação de pessoas, idéias e mercadorias para que os indivíduos conquistem um lugar no mercado de trabalho e possam garantir a si próprios e aos seus próximos uma qualidade de vida melhor. Dilma, que também se apóia na sua experiência pessoal de vida, pois foi militante ativa de oposição durante a Ditadura Militar (1964-1985), percebe a história como um embate dialético entre as classes sociais e, nesse sentido, dá muita importância para os movimentos sociais e coletivos da sociedade brasileira e prega a presença de um Estado intervencionista no setor social, capaz de realizar políticas públicas favoráveis ao processo de desenvolvimento social. Enquanto Serra prega o individualismo liberal, Dilma prega o intervencionismo estatal. Claro que o que acabei de escrever é muito sumário, pois tanto um como outro demandam uma reflexão muito mais aprimorada. Mas creio que o leitor tenha, a partir dessa abordagem sumária, uma ideia mais clara do que aproxima e distancia um do outro. Não se trata de maniqueísmo. Serra não é o "vampiro brasileiro" e Dilma não é a "subversiva comunista", como querem alguns ignorantes ou então mal intencionados. São reflexos da realidade social e histórica brasileira no início do século XXI, carregada de uma herança do passado nacional, repleto de contradições e, principalmente, de demandas sociais por um poder público que seja capaz de equacionar e propor soluções para os problemas mais prementes da Nação. Para que isso seja possível, algum dos dois terá de tomar o poder e se manter nele, segundo Maquiavel. Porém, isso envolve, no processo democrático, um sistema de alianças e negociações muito complexo, com partidos políticos, sindicatos, ONGs, grupos ideológicos, classes sociais, meios de comunicação de massa etc. Não pense o leitor que a ação política de solução de problemas concretos na sociedade é resultado de um gesto de boa vontade do legislador e, em especial, do executivo na pessoa do Presidente da República. Não há unilateralidade nesse processo. O que existe, de fato, é uma situação de interdependência entre o poder público e os mais diversos setores da sociedade, que possuem suas demandas, legítimas ou não, mas que têm algum tipo de poder em contrapartida, capaz de pressionar o governante a se posicionar positivamente em relação ao diálogo e, com base no consenso político, apoiando-se na tolerância e na flexibilidade, ser capaz de implantar medidas realmente eficazes para a resolução dos problemas sociais. Para finalizar, quero que o leitor reflita que os padrões de moralidade da vida privada não podem ser aplicados à vida política. O pensamento político deve ser utilitarista, tendo como base de legitimidade da ação política a consequência pragmática do próprio ato. Do contrário, o idealismo político afastaria o governante tanto da capacidade de tomar decisões como, principalmente, do contato com a sociedade e suas demandas. </div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-69142378977379339782010-08-07T07:51:00.000-07:002010-08-07T08:11:44.861-07:00Eh Pagu Eh...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDvRZM6_rPr1rw65t5UkE3ktyqZxw4A2dbt0UgiUXXWj-58MJ_wq5MfSRagDAyTgbon5wd-jKbUNNZkJn0n2dbBeaPs5cWG2odvQUhI7Eb45AnG3JWANlOIPNDRo1HgUwQzdcJusrZo9Oo/s1600/pagu.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 308px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5502680694758248178" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDvRZM6_rPr1rw65t5UkE3ktyqZxw4A2dbt0UgiUXXWj-58MJ_wq5MfSRagDAyTgbon5wd-jKbUNNZkJn0n2dbBeaPs5cWG2odvQUhI7Eb45AnG3JWANlOIPNDRo1HgUwQzdcJusrZo9Oo/s320/pagu.jpg" /></a><br /><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div>Pagu... Patrícia Galvão... em meio a um câncer que lhe tirou a vida em 1962, aos 52 anos de idade apenas, ainda agia infatigável na militância social e política. Plínio Marcos, ainda um jovem, a conheceu em Santos. Ele, vivido nos puteiros da cidade. Cais, putas, cachaça, povo. Cheiro de gente que é real. Conheci o Plínio em São Paulo vendendo na USP seus livros em julho de 1984. Ela não conheci. Não tinha nascido ainda. Se existe alguém a quem é possível atribuir o título da peça de Plínio, "Navalha na carne", é Pagu. Plínio é preso e perseguido durante a Ditadura Militar (1964 - 1985). Pagu é presa e estuprada no DOPS durante a Era Vargas. Uma identidade entre os dois. Um inconformismo duplo. Pagu é hoje nome de um Centro Cultural na cidade onde nasceu: São João da Boa Vista. Não há nada mais contraditório na História. No Centro Cultural não há livros significativos para a população pobre da cidade ler. Pagu ficaria furiosa se soubesse disso. Hoje é "chique" citar Pagu. Mas a maioria dos que a citam são hipócritas pequeno burgueses. Pagu apanhou da polícia. Deu tiros da janela de seu jornal em estudantes reacionários da Faculdade de Direito de São Paulo. Foi presa por causa disso! Mulher. Cabelos soltos, lábios marcados por um forte batom vermelho, blusas transparentes. Fumava em público! Era dona mais que sabida de seu corpo e de sua sexualidade. Os chauvinistas dos anos 1930 diriam: se mulher não é doméstica, é puta! Além disso, comunista. Foi o Prestes que a introduziu no Partidão. Oswald se separou da Tarcila para se casar com Pagu. O sacana canibalizou Pagu na sua antropofagia. Pagu disse mais um palavrão, deixa o filho com Oswald e vai para a Europa. Vive sua liberdade! Quando volta, mais pancada e prisão. Tem um momento de lucidez e rompe com o PCB. Vira trotskista e passa a viver com Geraldo Ferraz. Esse homem acolhe Pagu e a ama de verdade. Um verdadeiro homem não olha a simetria feminina, olha a alma da mulher e admira sua força e coragem. Pagu vai para a Escola de Arte Dramática e mergulha no teatro. A arte é a forma mais sublime de denunciar a opressão e desejar a mudança. Pagu é esmigalhada pelo tempo, pelos homens, pela doença, pelo stalinismo, pelo getulismo, pela classe média. Nenhum proletário conhecia Pagu. Morre arruinada na sua angústia de uma vida em liberdade ousada, mas vilipendiada pela arrogância dos falsos moralistas. Pagu é mulher de palavra e de coragem. Eh Pagu Eh! Cem anos desde o seu nascimento. Basta um olhar lânguido e ela derrete o coração daqueles que ainda se inspiram em seu querer e em seu devir. Musa? Não. Isso é sujeira do antropófago e do Bopp. Vida pulsante? Sim. Um paradigma para todos os que têm a coragem de ousar na vida. Ei, Pedro Conte, lembra daquele dia na padaria Rainha? Vc me perguntou como é possível ainda ser rebelde. Respondi que para isso é preciso querer ser livre. Fique vc com a memória da Pagu e com a minha mais sincera amizade... </div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-61777121515712600572010-07-28T08:03:00.000-07:002010-07-28T08:52:02.009-07:00Ciclo de filmes no Cineclube Beloca<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSP-lZBrT_Aa99NGKsbrozutC9KWi82ZEeIlllxqtK-pKRhL0JKgxX9VIRoLsIXipm9vHPJcqjr3zdKqVOmrwj_LUxliAYcptR136lxG1bFDk163jigaxifQa1etOLBkuvgB6_-T_W-F7A/s1600/600px-Fachada_Teatro_Municipal_SJBV.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 320px; FLOAT: left; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5498974670604399890" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSP-lZBrT_Aa99NGKsbrozutC9KWi82ZEeIlllxqtK-pKRhL0JKgxX9VIRoLsIXipm9vHPJcqjr3zdKqVOmrwj_LUxliAYcptR136lxG1bFDk163jigaxifQa1etOLBkuvgB6_-T_W-F7A/s320/600px-Fachada_Teatro_Municipal_SJBV.jpg" /></a><br /><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div> </div><div>Ontem terminou o ciclo de filmes no Cineclube Beloca com o tema "Felicidade desesperadamente" do qual fui o curador. Na verdade, a escolha dos filmes ficou sob o encargo dos principais organizadores do Cineclube, a Alice e o Fritz, a quem eu quero agradecer de coração o convite e a oportunidade para apresentar meu trabalho. Foram quatro filmes apresentados. O primeiro, "Tartarugas podem voar" é um filme iraniano de meados dessa década, após a invasão norte-americana no Iraque. Trate de um grupo de jovens refugiados curdos que viviam em tendas com muitas dificuldades. Há um contrate interessante no filme entre as principais personagens. Os jovens que, apesar das dificuldades e do sofrimento, procuravam por meio da solidariedade a alegria da vida, mesmo perdendo os dois braços com a explosão de uma mina terrestre, pois ganhavam a vida desarmando minas militares e vendendo-as para comerciantes locais e, de outro lado, a menina que foi estuprada por militares iraquianos e que teve a sua família morta e, como resultado, teve uma criança que nasceu cega. Os horizontes da felicidade se apresentam para todos, mas para alguns o horizonte está mais distante, enquanto para outros mais próximo. Porém, muitos dos que vislumbram o horizonte mais distante não abdicam da possibilidade da felicidade, mesmo em situações as mais bizarras possíveis, enquanto outros, que estão muito próximos desse horizonte, não conseguem visualizá-lo e vivem na infelicidade. No caso da menina, devido às suas condições subjetivas e objetivas, o horizonte da felicidade se encontrava muito, mas muito distante e acabou fazendo a opção mais do que já explicitada por Albert Camus, pelo suicídio e o assassinato de seu filho ainda criança. Porém, os demais, não abdicaram da possibilidade de felicidade e a afirmavam diversas vezes, mesmo sob as mais severas condições de vida. O segundo filme, "Ensina-me a viver", do início dos anos 70, trata da história de um jovem de classe alta que tem um comportamento mórbido. Talvez por tédio, talvez por tentar encontrar sua individualidade, mas nunca para tentar a busca da felicidade. Simula suicídios diante da mãe, que já conformada com o comportamento do filho torna-se indiferente. Como gosta de frequentar velórios e enterros, encontra uma idosa que daí a poucos dias irá completar 80 anos de idade. O filme é carregado nas tintas da contra-cultura do final dos anos 60 e, desta forma, a idosa, Maube, tem um comportamento de liberdade, pela liberdade e para a liberdade que, aos olhos do presente, mais parece insensatez. Ela furta automóveis e trafega pelas ruas das cidades e pelas estradas em alta velocidade, ludibriando os policiais. Tem dentro de casa, que é um vagão de trem abandonado, uma diversidade de objetos que coleciona, como o banjo que deu de presente a Harold, o rapaz do filme, até uma vagina feita de madeira e desproporcional, que convida Harold para tocá-la e senti-la, assim como um aparelho de respiração que simula o cheiro da neve. Sua estravagância contagia o rapaz que acaba se apaixonando por ela. Elas dormem juntos e ele a pede em casamento. Porém ela já tinha previsto que no dia em que completasse 80 anos ela se suicidaria. Dito e feito, para a tristeza de Harold que, nem por isso, abdica do ideal de liberdade e autonomia proposto pela contra-cultura. Abandona seu comportamento mórbido e termina o filme caminhando sob um campo gramado, tocando umas notas musicais no seu banjo. Convém ressaltar que em uma determinada passagem do filme a câmera mostra o braço da idosa Maube com números tatuados, o que indica que era judia e que teria sido uma sobrevivente dos campos de concentração nazistas. O terceiro filme é de Orson Wells, "Cidadão Kane", que conta a história de um garoto pobre que transfere por meio da ganância a sua busca pela felicidade. Ele se torna um importante homem público dos meios de comunicação norte-americanos, com poder, prestígio e muito dinheiro. Estabele relações superficiais com as pessoas, as manipula em um jogo de "verdades e mentiras" em seus jornais, mas acaba morrendo infeliz. No momento de sua morte pronuncia a palavra "rosebud". Essa palavra misteriosa, propositalmente colocada na boca da personagem por Wells, remete a infância de Kane, e a sua busca incessante durante toda a vida para recuperar suas sensações felizes durante sua infância pobre, quando possuía um par de esquis a que dera o nome de "rosebud". Buscou por toda a vida a felicidade no exterior e no final reconheceu que ela estava dentro dele, nas suas recordações de infância, que nenhum poder, prestígio ou dinheiro poderia resgatar. O quarto e último filme, apresentado ontem, "As duas faces da felicidade" é francês, do início dos anos 60. É um filme sartriano, existencialista, que trata da noção do amor necessário e do amor contingente. Uma família bem estruturada e feliz. O marido é marceneiro e a esposa costureira. Duas crianças lindas e calmas. Uma casa simples, mas bem estruturada. Boa vizinhança, bons amigos, boa família etc. Porém, em um trabalho fora da cidade, ele se apaixona por uma funcionária dos correios e passa a se relacionar sexualmente e afetivamente com ela. Ele afirma que está acumulando felicidade, que é capaz de amar mais ainda a sua jovem esposa, da qual não tem intenção de se separar. Em um dia ensolarado, em um parque, muito sinceramente relata para a esposa sua experiência e afirma que está mais feliz do que antes. Ela se suicida. Ele se entristece com a morte da mulher, mas poucos meses depois passa a viver com a amante, que assume a responsabilidade por seus filhos, sem remorso ou culpa. Fim da estória: a imoralidade está em Therese, a esposa que não aceita o amor contingencial e com o suicídio renuncia à felicidade. Bem sartriano...</div><div>Enfim, para um pequeno público que achei interessado, fiz a seguinte reflexão. Disse que arte e filosofia estão intimamente ligadas. O cinema, como forma de expressão artística, não deve ser visto como uma reprodução da história, mas como uma leitura de todos os que participam de sua elaboração, especialmente o diretor, da realidade, um ponto de vista sobre a verdade e, desta forma, é possível, por meio do filme, contextualizar um viés do contexto cultural da época em que foi rodado o filme. E é nesse momento que é possível estabelecer uma relação com a filosofia. Comecei citando superfialmente, como farei aqui, pois lá o tempo era exíguo e, aqui, o espaço, Schopenhauer que escreveu que viver é estar entre dois polos, a dor e o tédio. A vontade metafísica pensada por Schopenhauer faz com que o ser humano deseje sempre algo que não está tão facilmente ao seu alcance e, durante o desejo, sofra a dor. Quando atinge seu objetivo e passa a possuir o objeto desejado, vivencia o tédio e quase que imediatamente a vontade se manifesta novamente por meio de um novo desejo. Para estancar essa sensação de infelicidade Schopenhauer, talvez influenciado pelo budismo, defende o desapego. Em seguida cito Nietzsche e sua noção de que todos nós estamos caindo em um abismo. A única opção de escolha diante dessa fatalidade é despencar se lamentando ou então dançando. A morte é uma realidade que mais cedo ou mais tarde atingirá todos os seres humanos e, desta forma, é inevitável. Então só nos restaria a opção pela vida, mas pela vida presente, vivendo-a como se fosse uma eternidade e, ao mesmo tempo, fortalecermos nosso corpo e nosso espírito por meio do exercício do "amor fati" incondicional. A vida presente é a única vida possível para nós. Eis a possibilidade do além do homem. Cultivar uma moral dos senhores é fundamental pois, por meio dela, desenvolveremos a coragem, a bravura, a força e a capacidade de andar pelo mundo com a cabeça erguida, mesmo que diante das mais terríveis intempéries. Passo em seguida para Kafka e seu conto "A metamorfose". Gregor trabalha para sustentar sua família. Seu pai endividado o obriga a se empregar para o homem para quem ele deve. Mas o próprio pai não trabalha. Sua irmã quer aprender a tocar violino e precisa de dinheiro para pagar as aulas. Então Gregor trabalha para sua irmã ser feliz. E ele, quase que intantaneamente, se transforma em uma barata. Ele foi transformado em uma barata pela opressão familiar? Se quisesse poderia ter dito "não". Negar a "ética do dever", que nos remete ao imperativo categórico kantiano e abraçar a "ética do querer" é a única possibilidade para não nos deixarmos transformar em baratas. Procuro estabelecer relações entre os autores que, além do mais, são todos materialistas. Em seguida cito Sartre e digo que somos todos condenados à liberdade, mesmo na omissão, pois as escolhas são de nossa inteira responsabilidade e não há nada dentro ou fora de nós, como um mandamento divino ou uma lei moral, que legitime nossas escolhas. Isso nos angustia, quando temos consciência dessa realidade, mas ao mesmo tempo nos permite a liberdade. É claro que o pensamento ético sartriano não termina aqui e, digo mais, mal começa aqui, mas se faz necessário uma abordagem sumária que, nesse caso, serve para instigar o leitor. Depois cito Camus e "O mito de Sísifo". A vida é absurda e, para vivê-la, temos que ser heróis absurdos. Não se deve negar a vida, mas afirmá-la incessantemente. Talvez exista alguém que mal conhecemos que está disposto a nos ajudar a empurrar a pedra de Sísifo até o alto da montanha. Termino com Sponville que afirma que só temos o presente. Em relação ao passado, gratidão e misericórdia e, em relação ao futuro, desespero, ausência de esperança, não viver no futuro, porque senão nós não seremos capazes de usufruir o presente. A única felicidade que podemos ter é a felicidade possível, em função de nossas condições momentâneas subjetivas e objetivas. Enfim, não desejar demasiadamente o que não temos, mas desejar muito, mas muito mesmo o que temos...</div>Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7069550832158415622.post-15492144491650282812010-07-26T15:05:00.001-07:002010-07-26T15:24:21.644-07:00Pouso Alto...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPA3-ZTHqBWM-8uvEmtsEE4HpEGvBf-IQWD1EOrk_iOCgYYao5XC7vl1aiOSDpaNAoL0thTYQ7lStGvmJ0_YNOd48DqXW4p9tEUS9EeTlJh2n0ieqZKNjLwQ1oE42rAfWIimfdWSpbwTHj/s1600/DSC01088.JPG"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 320px; FLOAT: left; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5498339679783644706" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPA3-ZTHqBWM-8uvEmtsEE4HpEGvBf-IQWD1EOrk_iOCgYYao5XC7vl1aiOSDpaNAoL0thTYQ7lStGvmJ0_YNOd48DqXW4p9tEUS9EeTlJh2n0ieqZKNjLwQ1oE42rAfWIimfdWSpbwTHj/s320/DSC01088.JPG" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Pouso Alto... cidade encrustrada nas montanhas de Minas. Muito antiga e que ainda preserva prédios do século XIX. Cidade em que meu pai nasceu. Tem um significado muito especial para mim. Raízes... Para mim é fundamental rever sempre as raízes, refletir sobre elas, a família, a história, a dolorosa verdade, segundo Sponville. Meu avô, pai de meu pai, Clovis, saiu de Campos dos Goitacazes para viver em Pouso Alto nos anos 20 do século passado. Lá conheceu minha avó. Áurea era o seu nome. Ele era descendente de europeus, numa mistura de francês e português. Era alto, com olhos claros e um porte nobre. Soutto Mayor... Minha família, isto é, os mais tradicionais, consideram essa ascendência importante e gloriosa. De minha parte, considero as dificuldades de meu avô em se adaptar a uma cidade pequena do sul de Minas, a luta diária com o trabalho, a pobreza e a necessidade de cuidar zelozamente de sete filhos (eram nove, mas dois morreram). Ela uma bugre, Dias seu sobrenome, de origem negra e indígena. Nasceu em Uberaba, também em Minas, mas no Triângulo. Não poderia haver mais brasilidade na junção desses dois contrates que tanto marcam a história social do Brasil. A tal parte familiar tradicional nem se quer faz referência a essa ascendência. Por outro lado, tenho orgulho de minhas raízes negras e ameríndias herdadas de minha avó. Ela morreu no parto do seu nono filho. Tinha somente 31 anos. Os partos no início do século passado eram arriscados e as mulheres tinham que jogar com a sorte para sobreviverem nas mãos da parteira. O ano era 1940... Meu avô ficou sozinho, tendo apenas alguns poucos parentes do lado de minha avó para ajudá-lo a educar as crianças que sobreviveram, e meu pai era uma delas, ainda com seis anos de idade e, ao mesmo tempo, encontrar apoio para seu sofrimento pela perda de sua amada esposa. Não conseguiu suportar. A dor e a saudade, o sacrifício e a luta diária, as doenças o levaram cedo também, dois anos após a morte de minha avó, em 1942. Ele tinha 41 anos de idade apenas. As crianças ficaram órfãs de pai e mãe. Meu pai só tinha oito anos de idade. Cada um dos irmãos foram adotados por famílias diferentes que mantinham elo de relacionamento entre si. Mas antes de ser adotado, meu pai foi morar com um tio, irmão de minha avó, em uma fazenda. Nunca mais me esquecerei de ouvir meu pai me contar sobre a saudade de andar à cavalo nas colinas mineiras. Foram apenas dois anos. Aos dez já não estava mais em Pouso Alto, perto dos riachos, colinas, árvores e dos cavalos. Já tinha ido para São Paulo. E assim a vida prosseguiu. Cada um dos irmãos sendo cuidado por famílias diferentes, em cidades diferentes, sem contato e guardando dentro do peito a saudade dos pais mortos e dos outros irmãos. Mais uma vez Sponville: felicidade desesperadamente... Sentei no túmulo de meus avós e chorei, chorei muito, de profunda emoção, naquele pequeno cemitério de Pouso Alto. Uma campa simples, com uma tabuleta metálica onde está escrito o nome dos dois: Clovis e Áurea. Acho que ninguém mais visita a campa de meus avós, depois da morte de meu tio Oswaldo há alguns anos atrás. Estive lá, não só para reverenciar a memória desses dois seres que sofreram aquilo que a vida reserva a cada um de nós, mas especialmente para lembrar meu pai. O imaginei pequeno ainda, andando e brincando nas ruas de pedras da cidade, comendo um doce comprado na padaria ou feito em casa, junto com seus irmãos... Só restou uma coisa de tudo isso: saudade... É disso que somos feitos, é para isso que somos feitos... Nada mais importa, porque a felicidade só é possível na ausência da esperança... Amanhã recomeço a vida...Paulo Pereira Soutto Mayorhttp://www.blogger.com/profile/16905466121448546100noreply@blogger.com6