sábado, 7 de agosto de 2010

Eh Pagu Eh...


Pagu... Patrícia Galvão... em meio a um câncer que lhe tirou a vida em 1962, aos 52 anos de idade apenas, ainda agia infatigável na militância social e política. Plínio Marcos, ainda um jovem, a conheceu em Santos. Ele, vivido nos puteiros da cidade. Cais, putas, cachaça, povo. Cheiro de gente que é real. Conheci o Plínio em São Paulo vendendo na USP seus livros em julho de 1984. Ela não conheci. Não tinha nascido ainda. Se existe alguém a quem é possível atribuir o título da peça de Plínio, "Navalha na carne", é Pagu. Plínio é preso e perseguido durante a Ditadura Militar (1964 - 1985). Pagu é presa e estuprada no DOPS durante a Era Vargas. Uma identidade entre os dois. Um inconformismo duplo. Pagu é hoje nome de um Centro Cultural na cidade onde nasceu: São João da Boa Vista. Não há nada mais contraditório na História. No Centro Cultural não há livros significativos para a população pobre da cidade ler. Pagu ficaria furiosa se soubesse disso. Hoje é "chique" citar Pagu. Mas a maioria dos que a citam são hipócritas pequeno burgueses. Pagu apanhou da polícia. Deu tiros da janela de seu jornal em estudantes reacionários da Faculdade de Direito de São Paulo. Foi presa por causa disso! Mulher. Cabelos soltos, lábios marcados por um forte batom vermelho, blusas transparentes. Fumava em público! Era dona mais que sabida de seu corpo e de sua sexualidade. Os chauvinistas dos anos 1930 diriam: se mulher não é doméstica, é puta! Além disso, comunista. Foi o Prestes que a introduziu no Partidão. Oswald se separou da Tarcila para se casar com Pagu. O sacana canibalizou Pagu na sua antropofagia. Pagu disse mais um palavrão, deixa o filho com Oswald e vai para a Europa. Vive sua liberdade! Quando volta, mais pancada e prisão. Tem um momento de lucidez e rompe com o PCB. Vira trotskista e passa a viver com Geraldo Ferraz. Esse homem acolhe Pagu e a ama de verdade. Um verdadeiro homem não olha a simetria feminina, olha a alma da mulher e admira sua força e coragem. Pagu vai para a Escola de Arte Dramática e mergulha no teatro. A arte é a forma mais sublime de denunciar a opressão e desejar a mudança. Pagu é esmigalhada pelo tempo, pelos homens, pela doença, pelo stalinismo, pelo getulismo, pela classe média. Nenhum proletário conhecia Pagu. Morre arruinada na sua angústia de uma vida em liberdade ousada, mas vilipendiada pela arrogância dos falsos moralistas. Pagu é mulher de palavra e de coragem. Eh Pagu Eh! Cem anos desde o seu nascimento. Basta um olhar lânguido e ela derrete o coração daqueles que ainda se inspiram em seu querer e em seu devir. Musa? Não. Isso é sujeira do antropófago e do Bopp. Vida pulsante? Sim. Um paradigma para todos os que têm a coragem de ousar na vida. Ei, Pedro Conte, lembra daquele dia na padaria Rainha? Vc me perguntou como é possível ainda ser rebelde. Respondi que para isso é preciso querer ser livre. Fique vc com a memória da Pagu e com a minha mais sincera amizade...

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