terça-feira, 9 de agosto de 2011

Melancolia




















Melancolia. Esse é o título do mais recente filme do cineasta controverso dinamarquês Lars Von Triers. Melancolia é uma palavra que toca fundo no coração dos humanos. Todos já sentimos a angústia que a melancolia nos trás. O sentimento de desesperança, de que tudo está perdido, de que nada vale à pena. De fato, tudo está perdido mesmo, se pensarmos que daqui a alguns bilhões de anos o Sol chegará ao fim e a vida no planeta, junto com ele, também. Nietzsche, em sua louca sabedoria, afirmava que estamos todos caindo em um abismo. Não se trata mais de dizer que alguns caem dançando e outros se lamentando. O que importa agora é afirmarmos para nós mesmo que todos estamos caindo, despencando em um abismo. Porém, apesar de ser profundo e escuro, o abismo é grande demais, é largo demais, para cairmos sozinhos. Na verdade, penso eu, ele é largo o suficiente para que todos nós caiamos ao mesmo tempo nesse abismo. E isso nos revela uma possibilidade adicional. Para mim é a de que podemos, enquanto caímos, dar-nos as mãos e sentirmos o calor da amizade e do amor, o aconchego do olhar, melancólico, que seja, do companheiro ou da companheira ao lado nos dizendo: eu sei que vc está caindo no abismo, mas eu estou também caindo, e estou ao seu lado, como vc está ao meu lado. Acho que é isso o que resta, apenas. A amizade e o amor, a solidariedade e a compaixão, a possibilidade de não deixarmos o outro só e nem de nos sentirmos sós. Porque diante do poder da natureza, somos simplesmente fracos demais, insignificantes. Por mais que a medicina, essa ciência que nasceu na Grécia e que nos mantém vivos até hoje, progrida, ela jamais terá a condição de nos proporcionar a eternidade. Eu não quero a eternidade. Na verdade, sinto nos ombros o peso do mundo e o peso de minha existência. Já me sinto cansado. Não sou daqueles que dão risos fúteis a partir de alguma vulgaridade dita. Sou talvez mais carrancudo, mais circunspecto. O mundo e os caminhos percorridos pesam nos ombros. Somente quando se tem uma certa idade e um acúmulo grande de experiências podemos dizer isso. O mundo pesa nos ombros. Daí vem um cansaço quase insuperável, que dá vontade de desistir. Melancolia. Ela também provém do fato de que na natureza não há sentido nem regra. Talvez o ruim supere realmente o bom. Não quero dizer que o mal supera o bem, pois não estou a fim de pensar metafisicamente. Quero apenas dizer que o ruim talvez supere o bom. Não sou bom. Sou egoísta. Mas não vou me recusar a segurar as mãos de quem estiver caindo comigo no abismo porque não quero que essa pessoa se sinta só nesse instante e nem eu quero me sentir só. Um apóia o outro, talvez essa seja a regra de ouro. Desencanto, quase sempre. Mas quando vou a escola e meus alunos e alunas vem me abraçar e me beijar, dizendo que estavam com saudades de mim e de minhas aulas, então, quase que por encanto, não me sinto mais caindo no abismo real. Sinto-me flutuando em nuvens, com o sol quente aquecendo minha pele e o azul do céu criando um cenário maravilhoso e repleto de possibilidades. Sartre disse certa vez que o inferno são os outros. Quando penso naqueles que me ligam, não para perguntar como estou e muito menos para dizerem coisas enriquecedoras, mas para compartilharem mesquinhez e insensatez, realmente concordo com Sartre. Mas quando uma aluna maravilhosa que tenho no primeiro colegial me diz, baixinho, que quer cuidar de mim quando eu ficar velhinho, então uma lágrima sincera cai de meus olhos e agradeço a natureza por estar vivo... só isso...

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