quarta-feira, 20 de julho de 2011

Homofobia

Neste último final de semana, em São João da Boa Vista, ocorreu um ato de homofobia que movimentou a mídia no estado de São Paulo, pelo menos. Todos os anos acontece, em julho, uma feira agropecuária horrorosa que o pessoal de lá chama de EAPIC. É uma bosta de feira caipira, que reúne milhares de fãs daquelas coisas idiotas que tentam rimar amor com flor, o tal breganejo. Tem gente de todas as classes sociais, porque educação e cultura não é privilégio de uma ou outra classe, de quem tem ou não dinheiro, mas resultado de um tratamento cuidadoso do espírito por meio do estudo e da reflexão. Então aparecem por lá patricinhas e mauricinhos e também parcelas significativas do proletariado, tanto faz. Porém, culturalmente falando, do ponto de vista antropológico, vícios de comportamento, como o machismo indiscriminado, estão presentes, tanto no comportamento dos homens que comparam a quantidade de trepadas que dão com mulheres diferentes, buscando com isso a criação de um ranking de sucesso pessoal, diante de fracassos existenciais, como também no comportamento de mulheres, e aí eu concordo com o Pondé, que se deixam ser tratadas como objeto porque não querem se sentir solitárias ou preteridas. O comportamento machista é também criadouro de um preconceito arraigado na sociedade brasileira, que é a homofobia, ou seja, a aversão aos homossexuais.
Desta vez a coisa ficou preta! Pai e filho, acompanhados de suas respectivas namoradas que estavam no banheiro no momento do fato, foram violentamente agredidos por um grupo de homofóbicos, que freudianamente são recalcados, ou seja, manifestam por meio da violência o que de fato gostariam de estar fazendo e, portanto, não querem assumir a sua própria sexualidade, porque estavam se abraçando na tal festa breganeja. Pouco importa que eram pai e filho. O que importa é que foram vistos como um casal gay por um grupo de trogloditas e foram espancados. O pai teve boa parte de sua orelha arrancada e terá que fazer um implante de cartilagem para reconstituir a sua orelha.
O que isso revela? Que a homofobia corre solta em nosso país. É por causa disso que há um projeto no Congresso Nacional que transforma a homofobia em crime. Porém, como a maior parte dos congressistas são também homofóbicos, ainda está tramitando no Congresso e, provavelmente não será aprovado. Do contrário, tal ato seria considerado crime grave, com pena superior a 4 anos e permitiria a autoridade judiciária autorizar a prisão preventiva ou temporária dos responsáveis.
O que a atual legislação permite é, no máximo, a abertura de um inquérito policial e de um processo crime por lesão corporal, que pode ser interpretada pelo juiz como leve e, desta forma, se os acusados forem condenados, terão como pena, talvez, a prestação de serviços para a comunidade por um curto período de tempo.
Tenho diversos amigos e amigas homossexuais que, de maneira constrangedora, não podem manifestar seus afetos publicamente, porque sabem que serão censurados de alguma forma, talvez até violentamente, como foram o pai e o filho na bosta da festa caipira.
O que fazer em tal situação? Enviar ao deputado federal e senador que vc votou um e-mail pedindo o compromisso de aprovarem o projeto de lei que torna crime a homofobia, assim como o racismo foi transformado em crime. Talvez, com o rigor da lei e o fim da impunidade, esses covardes recalcados tomem vergonha na cara e fiquem simplesmente quietos diante de duas ou mais pessoas do mesmo sexo que, indiferentemente de serem heterossexuais ou homossexuais, demonstrem o carinho que sentem entre si livremente em qualquer espaço público e privado.
Se esse país pretende ser realmente uma democracia é fundamental que os direitos individuais sejam definitivamente respeitados por todos, mesmo que mediante o constrangimento legal.
Que os babacas queiram gastar o seu dinheiro em eventos desse naipe, é problema deles. Mas usar da violência contra as pessoas que demonstram carinho em público é inadimissível!
PS.: Quero deixar um forte abraço para meu novo amigo Alain, poeta carioca que conheci nessa cidade incrível que é São João del Rey. Alain, continue com sua irrepreensível coragem de fazer o que mais gosta, que é escrever, desenhar e compor! Vamos nos falando...

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