domingo, 28 de junho de 2009

Felicidade desesperadamente

A leitura do livro de Sponville permitiu-me conhecer o significado da palavra desesperança. Não se trata de dispensar o futuro ou o que será o devir. Trata-se de recusar a ilusão e a fantasia idealizada sobre algo que não somente não existe, mas também que tem grandes probabilidades de não acontecer e, desta forma, dizer um sim ao presente, carpe diem, colhendo o dia, agarrá-lo de maneira intensa, sentir a força vital do que me é possível no agora e recusar a morte. Nada de choramingos, melancolias desnecessárias, desonestidades gratuitas, devaneios conciliatórios, piedades como a moral do escravo nietzschiano. Somente afirmação da vida, criação e recriação dos próprios valores, tentativa de dar um sentido ao non sense, gratidão do passado, com suas lembranças significativas e marcantes, que tentaram várias vezes solapar minha alegria, mas que recuso enfaticamente diante da possibilidade arrogante de ser feliz no desespero, na ausência da esperança tardia e irrefletida. Somente a verdade é o que importa, mesmo que se façam diversas leituras da mesma. Somente a história importa, gravada indelével nos anais do universo que não está nem um pouco preocupado com questões morais. Aliás, a moralidade é uma criação essencialmente humana e como e com a humanidade desaparecerá algum dia. Nietzsche escreveu que "em algum ponto do universo inundado por cintilações de inúmeros sistemas solares houve um dia um planeta em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais orgulhoso e mais mentiroso da 'história universal', mas foi apenas um minuto. Depois de alguns suspiros da natureza o planeta se congelou e os animais inteligentes tiveram que morrer" (Verdade e mentira no sentido extra-moral). Não é uma criação do universo ou da natureza o fato moral, a moralidade, mas uma invenção humana. Não se trata aqui de uma moral cristã ou libertina, para pensar nos avessos, que eu defendo, mas de uma moralidade ética que pressupõe a afirmação da vida, negando a morte, em vida ou não, negando a eternidade, dizendo um não bem grande à ilusão do sobrenatural. Trata-se de uma moral humana, demasiada humana, que privilegia as virtudes não se pensando em prêmios futuros e na cura e perdão divinos. Uma moral da alegria que tem como ponto de partida somente o desejo, a vontade, a satisfação do bem e de fazê-lo sem qualquer significação metafísica, apenas a dignidade, singelamente humana. Como cita Platão, entre Giges e Sócrates, fico com o segundo. Giges recebeu dos deuses um anel mágico que o tornava invisível. Ao invés de usar o presente para fazer o bem, fez o mal e se deu bem. Viveu como um canalha desprezível e morreu rei. Sócrates bebeu a cicuta em nome de sua verdade, que pode ser até questionável, mas que ele acreditava. Fez o bem, mesmo que Nietzsche não reconheça isso, porque acusa Sócrates de ter criado a moral e destruído a tragédia. Mas isso não importa, apenas a idéia. Então afirmo nesse primeiro texto que escrevo no blog que criei que digo sim a vida e viverei virtuosamente em nome da felicidade desesperada, arraigada no campo do possível e desejosa dos prazeres dos amigos, do silêncio para a reflexão e da liberdade, como queria Epicuro. A todos aqueles que acessarem o meu blog "felicidade desesperadamente" sejam bem-vindos e sintam-se livres para escreverem seus pensamentos nesse espaço. Carpe diem à todos!

2 comentários:

  1. A felicidade está enraizada no nosso presente. Mas os fantasmas que nos assombram do passado lutam "desesperdamente" para sermos infelizes. Esta conquista, esta batalha, tem que ser travada cotidianamente. Felicidades e vitórias neste combate para no final alcançar a tão sonhada felicidade.Beijos e muita felicidade a você. Carinhosamente Vá...

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  2. Todos nós buscamos a felicidade desesperadamente.
    Alguns plantam sementes boas para colherem frutos bons,outros usam as outras pessoas como degraus para subir na vida.
    Mas nem todos alcançam seus objetivos,entao descontam sua raiva na sociedade,impedindo aqueles que plantaram as sementes boas,de alcançarem a sua felicidade.
    Devemos sim procurar a felicidade,mas não impedir a felicidade do proximo para conseguir a propria.
    Concordo plenamente com voce,e espero um dia encontrar minha felicidade desesperada.
    Um grande abraço e seja feliz!!!

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