domingo, 28 de junho de 2009










Um olhar mais discreto pela janela, do interior do teatro, para a rua finita à sua espreita. Um olhar que pede pelo mundo, que tem sede de uma aventura pelas montanhas de Minas, que descobre o interior de cada humano. Esse olhar que não aparece, mas que os de fora podem ver, investiga a paisagem, tropical, regada por construções antigas.
A ação do olhar é criadora, dá o sentido que é para si subjetivo, que pode até não ser compreendido pelos de fora, todos os de fora, mas que revela para si própria a certeza aguda e alegre do que se tem sempre a fazer. Nada de vazio existencial, muito menos de preocupações mesquinhas, somente grandes projetos diários, infindos, sustentados por uma força interior que desde menina já se manifestava.
Diante da cidade pequena, encontra a paz e a tranquilidade que nutre os sentimentos. Revela sempre o momento de indignação com o injusto e o sorrateiro, em prol da unidade e equidade necessárias para o andar humano sobre a terra ferida de marcas solares. Uma voz que nunca se cala e que diz a palavra com emoção e vigor necessários a quem se apropria de personas trágicas, inspiradas no lirismo e no épico gregos.
Diante dos deuses helênicos desafia, a mulher inquieta, o fado e a presunção alheia, discernindo a verdade em meio a tantas possibilidades que encantam todo poeta. De fato, a rua só lhe mostra um pedaço do chão, não o chão inteiro, a inteireza da realidade, mas mesmo assim seu olhar, inusitado e inteligente, capta toda a verdade e revela para si mesma e para o mundo não uma esperança vã, como tantas outras, mas um desejo de ação transformadora que solidifica cada vez mais a sua personalidade.
As pessoas passam na rua simplesmente, com seus gestos vazios e intrigantes às vezes, mas isso não a incomoda, pois é feita de pedra e água, sólida e líquida, perfeitamente refletida na arqué que constitui o próprio universo. Sua natureza é volátil e, quando pedra, deixa-se moldar até encontrar a verdadeira estátua composta de curvas e rios de rocha que marcam seu semblante e suas formas e, quando é água, adiciona ao mundo como recipiente de vida a sua luz irradiante que inunda corações.
Quem a conhece sabe que os seus olhos atestam sua dignidade e alma resoluta e, assim como eu, aposta com firmeza na sua alegre disposição de construir personas teatrais para cultivar no ser humano a reflexão sobre sua finitude e, ao mesmo tempo, sua necessidade de cuidar do amor e da solidariedade.

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