sábado, 10 de julho de 2010

Flores e vermes: a eternidade...




A filosofia não é uma viagem nas nuvens e aquele que se dedica a ela não é um ser poético, no sentido da poesia enquanto uma vertigem. A filosofia é a vida. É a dedicação de um tempo todo à reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo. É a busca do(s) sentido(s), que não são imanentes à natureza, mas que são atribuídos por nós mesmos e, desta feita, sem qualquer legitimidade externa. A única legitimidade possível é o desejo de que aquilo que nos dá algum sentido para viver é resultado de nossa escolha. Creio que existem dois tipos de filósofos. Aqueles que atribuem ao ser e ao mundo um sentido metafísico e aqueles que entendem que o ser e o mundo são materiais. Não é fácil fazer qualquer escolha sobre um dos dois grupos. Não dá para descartar a genialidade de Platão, de Kant, de Hegel etc e, ao mesmo tempo, não dá para negar a vitalidade, o desejo de vida, presentes em um Demócrito, em um Epicuro ou mesmo em Nietzsche. São extremos da história do pensamento filosófico. Porém, quando me deparo com questões cotidianas de escolhas a serem realizadas, fico tentado a fazer a opção pela vida. Isso significa levar à sério o que Bentham ou Mill disseram a respeito do utilitarismo. Para os apressados, o termo utilitarismo não tem qualquer relação com consumismo ou capitalismo, a um certo pragmatismo vulgar. Pelo contrário, o utilitarista é alguém que leva em consideração as consequências de suas ações no sentido de maximizar o bem, o alegre, o prazer e a felicidade para a maior quantidade de pessoas possível, tendo como pano de fundo uma preocupação qualitativa sobre essas sensações, o que muitas vezes torna difícil classificar, mas que deve nortear a reflexão. Em uma equação simplista, é preferível um prazer mais prolongado e menos intenso do que um prazer imediato e rápido e mais intenso; ou então é preferível um prazer a um desprazer qualquer. Para tanto, deve-se levar em consideração o sensualismo. O corpo sente e isso é um fato. Demócrito e Leucipo acreditavam que a verdade é atômica: átomos e vazio. A combinação dos átomos, que possuem diferenças entre si, é que se traduz no fenômeno, aquilo que se vê ou que se toca. O vazio é o não-ser, o espaço necessário para a conjunção dos átomos e das moléculas. Não há mais nada além desse materialismo. Em questões de ética, não há o que temer. A vida é uma só e não há além-mundo. Mas essa vida, a que temos, pode ser levada de maneira sensata ou não. E isso é uma questão particular para a humanidade. Por essa razão citei os utilitaristas anglo-saxões do século XIX. Se então a morte é a desintegração atômica não há com o que se preocupar. É o sono sem sonho. O descanso, afinal. Mas há a eternidade e ela está justamente nas novas possibilidades de combinações atômicas. Como não há, a priori, uma hierarquia entre os seres vivos, não há porque desvalorizar minha eternização em uma flor ou em um verme que incorporem alguns de meus átomos. A coisa é, a princípio, mais simples do que se pensa.

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