segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pouso Alto...















Pouso Alto... cidade encrustrada nas montanhas de Minas. Muito antiga e que ainda preserva prédios do século XIX. Cidade em que meu pai nasceu. Tem um significado muito especial para mim. Raízes... Para mim é fundamental rever sempre as raízes, refletir sobre elas, a família, a história, a dolorosa verdade, segundo Sponville. Meu avô, pai de meu pai, Clovis, saiu de Campos dos Goitacazes para viver em Pouso Alto nos anos 20 do século passado. Lá conheceu minha avó. Áurea era o seu nome. Ele era descendente de europeus, numa mistura de francês e português. Era alto, com olhos claros e um porte nobre. Soutto Mayor... Minha família, isto é, os mais tradicionais, consideram essa ascendência importante e gloriosa. De minha parte, considero as dificuldades de meu avô em se adaptar a uma cidade pequena do sul de Minas, a luta diária com o trabalho, a pobreza e a necessidade de cuidar zelozamente de sete filhos (eram nove, mas dois morreram). Ela uma bugre, Dias seu sobrenome, de origem negra e indígena. Nasceu em Uberaba, também em Minas, mas no Triângulo. Não poderia haver mais brasilidade na junção desses dois contrates que tanto marcam a história social do Brasil. A tal parte familiar tradicional nem se quer faz referência a essa ascendência. Por outro lado, tenho orgulho de minhas raízes negras e ameríndias herdadas de minha avó. Ela morreu no parto do seu nono filho. Tinha somente 31 anos. Os partos no início do século passado eram arriscados e as mulheres tinham que jogar com a sorte para sobreviverem nas mãos da parteira. O ano era 1940... Meu avô ficou sozinho, tendo apenas alguns poucos parentes do lado de minha avó para ajudá-lo a educar as crianças que sobreviveram, e meu pai era uma delas, ainda com seis anos de idade e, ao mesmo tempo, encontrar apoio para seu sofrimento pela perda de sua amada esposa. Não conseguiu suportar. A dor e a saudade, o sacrifício e a luta diária, as doenças o levaram cedo também, dois anos após a morte de minha avó, em 1942. Ele tinha 41 anos de idade apenas. As crianças ficaram órfãs de pai e mãe. Meu pai só tinha oito anos de idade. Cada um dos irmãos foram adotados por famílias diferentes que mantinham elo de relacionamento entre si. Mas antes de ser adotado, meu pai foi morar com um tio, irmão de minha avó, em uma fazenda. Nunca mais me esquecerei de ouvir meu pai me contar sobre a saudade de andar à cavalo nas colinas mineiras. Foram apenas dois anos. Aos dez já não estava mais em Pouso Alto, perto dos riachos, colinas, árvores e dos cavalos. Já tinha ido para São Paulo. E assim a vida prosseguiu. Cada um dos irmãos sendo cuidado por famílias diferentes, em cidades diferentes, sem contato e guardando dentro do peito a saudade dos pais mortos e dos outros irmãos. Mais uma vez Sponville: felicidade desesperadamente... Sentei no túmulo de meus avós e chorei, chorei muito, de profunda emoção, naquele pequeno cemitério de Pouso Alto. Uma campa simples, com uma tabuleta metálica onde está escrito o nome dos dois: Clovis e Áurea. Acho que ninguém mais visita a campa de meus avós, depois da morte de meu tio Oswaldo há alguns anos atrás. Estive lá, não só para reverenciar a memória desses dois seres que sofreram aquilo que a vida reserva a cada um de nós, mas especialmente para lembrar meu pai. O imaginei pequeno ainda, andando e brincando nas ruas de pedras da cidade, comendo um doce comprado na padaria ou feito em casa, junto com seus irmãos... Só restou uma coisa de tudo isso: saudade... É disso que somos feitos, é para isso que somos feitos... Nada mais importa, porque a felicidade só é possível na ausência da esperança... Amanhã recomeço a vida...

6 comentários:

  1. Oi Paulo! Muito bom o texto, emocionante. Já imprimi para mostrar para todos e, claro, indicarei o blog. Um grande beijo, Carolina Noronha.

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  2. Sou eterno apaixonado pela cidade de Pouso Alto!!!!! Sou de BH, passei minha adolescência em Pouso alto e tive a felicidade de namorar as mais belas gatas da cidade, amo esse lugar é tudo de bom parabéns pouso Alto (Rita, João José, Kiko e Vilmar) pessoas maravilhosas estão no meu coração!!!

    Forte abraço

    Nino Ballas ninoballas@gmail.com

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  3. lindo texto, historia incrível. seu blog é de mais. abração.

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  4. lindo texto, historia incrível. seu blog é de mais. abração.

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  5. Gostei de ler o seu texto. Historia emocionante.Obrigada por compartilhar conosco seu conhecimento, suas memórias, impressões e sentimentos.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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