sábado, 25 de julho de 2009

Sobre a condição humana


O que é realmente importante para nós?
O significado da condição humana, sem querer parafrasear Hannah Arendt, mas inspirado em Schopenhauer, está intrinsicamente relacionado com o que efetivamente somos no campo subjetivo. A minha percepção da realidade é o que importa e o que é carregado de significado. Aquilo que possuo, minhas posses e bens, são voláteis e, se são exteriores a mim, nada acrescentarão de fato em minha existência. Se possuo um automóvel ele se torna um veículo de transporte, que pode facilitar minha vida no sentido de possibilitar meu trânsito pela cidade. Pode também representar um certo prestígio em uma sociedade de consumo onde a representação que se faz de minha pessoa está relacionada com a propriedade do veículo. Porém, no sentido da minha condição humana, vale a percepção que tenho daquilo que possuo. Quero dizer com isso que minha felicidade ou alegria não está, necessariamente, atrelada à propriedade de um objeto material, exterior. É minha percepção que importa e, desta forma, esta se constitui em um dado subjetivo. Posso estar infeliz mesmo possuindo bens materiais e, outra pessoa qualquer, desprovida desses mesmos bens, pode se sentir feliz e realizada. O nível de contentamento não é objetivo porque está relacionado com a percepção que cada um tem de si mesmo em um determinado contexto.
Uma ação de alguém pode ser, para mim, algo que tenha produzido muito prazer para a pessoa que a realizou. Porém, essa mesma pessoa pode estar arrependida de ter realizado tal ação ou mesmo ser infeliz por tê-la realizado. Não se trata, desse modo, de eu querer copiar o que o outro fez, reproduzir sua ação na totalidade, para que eu seja feliz, pois é apenas um pressentimento de uma sensação de prazer, alegria ou felicidade pelo ato do outro mas que para o outro pode ter tido um significado diferente.
Será possível medir ou identificar minha felicidade pelas ações alheias? Ou então, será possível caracterizar minha vida e minhas escolhas pelas representações que os outros fazem daquilo que escolho e realizo? Essa é uma questão essencial na minha argumentação, pois sou eu e somente eu que devo determinar o significado de minhas ações e não pautá-las pelas opiniões alheias ou pelas escolhas das outras pessoas.
A imagem que escolhi, fotografada por Sebastião Salgado tem o significado do desespero diante da nossa condição existencial. Não quero simbolizar na imagem qualquer relação entre riqueza e pobreza material, mas entre riqueza e pobreza de espírito. Schopenhauer afirmou que um camponês com saúde é muito mais feliz do que um rei doente e em nada invejaria a condição do rei, pelo contrário, sentiria pena dele e de todo o sofrimento que carrega. Diante da condição alheia não cabe a mim o desespero, como a representação da foto em que a mulher está com as mãos sobre a cabeça em postura reflexiva, em minha percepção subjetiva, em relação à sua própria vida. A condição humana, dessa forma, deve ser determinada pela percepção que cada um tem daquilo que faz e de suas próprias escolhas. Pouco deve importar o que possuímos materialmente (porém, nesse ponto concordo com Schopenhauer, não se trata de abstrair uma condição material de absoluta miséria e, desta forma, agir no sentido de garantir uma condição de satisfação material minimamente desejável e confortável), menos ainda a opinião que os outros têm sobre nós mesmos, mas o que efetivamente somos, mesmo que em uma condição de transitoriedade constante, um eterno vir-a-ser, o "penta rei" ("tudo passa") de Heráclito, em uma situação presente e desejável por nós.
Não quero invejar as escolhas alheias, pois tenho minhas próprias e singulares escolhas e é em relação a elas que devo me sentir feliz ou infeliz. De fato, o que me interessa é a possibilidade de determinar minha própria condição humana naquilo que ela representa em relação a minha subjetividade. As escolhas alheias não podem me parecer satisfatórias, pois o outro, que as fez, pode tomá-las como um inferno de vida e, pelo contrário, me parecer o paraíso. Então, nada deve me importar a não ser aquilo que efetivamente faço e realizadamente sou.
Enfim, para que minha condição humana produza em mim mesmo a sensação de completa realização, ela não deve estar relacionada com o que possuo materialmente nem com a opinião dos outros a meu respeito e, muito menos, pautada nas ações alheias, mas singularmente referirem-se a minha própria pessoa e opinião. Só para lembrar Nietzsche, não devo arrepender-me de nada do que fiz no passado e viver o presente como se fosse em si mesmo uma eternidade.

Um comentário:

  1. Com uma profundidade fenômenal, a exautação do nossa essência, do nosso âmago, sem dúvida alguma não está atrelada a outros. Acabei de aprender que mesmo na solidariedade, na fraternidade, na misericódia, há necessidade também do egoísmo. Estanho dizer esta fala, mas em algumas situações é necessária tal postura. Muitas vezes nosso encantamento, nossa felicidade, está intrinsicamente ligada somente a nós mesmos. Mesmo assim, quero me unir aso próximo o máximo que puder para ensinar e aprender, afinal, é para isto que vivemos, bem entendido, não é questão de sobreviver, mas de VIVER...Vaneska Blasck Lobão

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